Células HeLa: a história por trás da primeira linhagem celular imortal
Compreenda as células HeLa, originadas de Henrietta Lacks, revolucionaram a medicina e as análises clínicas. Entenda sua história, impactos, dilemas éticos e legado científico.
BIOLOGIA MOLECULAR E BIOTECNOLOGIAIMUNOLOGIAMAIS CLICADOSATUALIDADES
Ariéu Azevedo Moraes
8/23/20254 min ler


Células HeLa: a história por trás da primeira linhagem celular imortal
Introdução
Descomplicar as análises clínicas também significa valorizar as histórias que moldaram a ciência. Uma das mais emblemáticas é a das células HeLa, a primeira linhagem celular imortal cultivada com sucesso em laboratório. Elas não apenas transformaram a pesquisa biomédica, mas também levantaram importantes discussões éticas que ecoam até hoje.
Por Ariéu Azevedo Moraes, Fundador da Pipeta e Pesquisa.
O contexto científico dos anos 1950
Até meados do século XX, cientistas enfrentavam um enorme desafio: manter células humanas vivas fora do corpo. As amostras coletadas em biópsias e cirurgias morriam rapidamente, inviabilizando o estudo prolongado de doenças ou o desenvolvimento de terapias.
Nesse cenário, a descoberta das células HeLa representou uma ruptura científica. Elas foram as primeiras a se multiplicarem indefinidamente em condições laboratoriais, abrindo as portas para experimentos antes impensáveis.
Henrietta Lacks: a mulher por trás da ciência
Henrietta Lacks nasceu em 1920, em uma comunidade rural da Virgínia, EUA. Casou-se jovem, teve cinco filhos e, em 1951, recebeu um diagnóstico devastador: câncer cervical agressivo. Durante o tratamento no hospital Johns Hopkins, médicos coletaram amostras de seu tumor sem autorização prévia — prática comum na época, mas que hoje seria considerada antiética.
Henrietta faleceu poucos meses depois, aos 31 anos. No entanto, parte de suas células continuou viva no laboratório do Dr. George Gey, surpreendendo os cientistas pela capacidade de se multiplicar sem parar.
Assim nasciam as células HeLa, nome formado pelas iniciais de Henrietta Lacks.
A revolução científica
As células HeLa se tornaram rapidamente um recurso inestimável. Em poucas semanas, já eram distribuídas para diferentes laboratórios nos EUA e, posteriormente, em todo o mundo. Seu impacto pode ser dividido em grandes áreas:
1. Oncologia
Foram fundamentais para compreender o ciclo celular, mutações genéticas e o comportamento tumoral. Até hoje, são usadas em pesquisas de câncer 【Nature】.
2. Virologia
HeLa permitiram o cultivo e estudo de vírus como poliovírus, HIV, HPV e, mais recentemente, coronavírus. Graças a elas, vacinas e terapias antivirais puderam ser desenvolvidas 【CDC】.
3. Farmacologia e toxicologia
A linhagem imortal possibilitou testar novos fármacos e avaliar os efeitos de substâncias químicas sobre células humanas.
4. Genética e biotecnologia
As células HeLa foram usadas no Projeto Genoma Humano e continuam essenciais em estudos de edição genética, como o CRISPR-Cas9.
5. Saúde reprodutiva
Auxiliaram na compreensão da fertilização in vitro e do comportamento de células-tronco.
Casos emblemáticos
Vacina contra poliomielite: nos anos 1950, HeLa foram cruciais para testar a eficácia da vacina de Jonas Salk 【CDC】.
HPV e câncer cervical: estudos com HeLa ajudaram a comprovar a ligação entre HPV e câncer de colo de útero, fundamentando o desenvolvimento da vacina contra o HPV 【WHO】.
COVID-19: durante a pandemia, HeLa foram usadas para entender como o SARS-CoV-2 infectava células humanas e para testes iniciais de medicamentos 【NIH】.
O dilema ético
O uso das células de Henrietta sem consentimento levantou questões fundamentais:
Quem é dono das células humanas utilizadas em pesquisa?
Como garantir que famílias sejam respeitadas e informadas?
A ciência pode avançar sem ferir direitos individuais?
Somente na década de 1970 a família Lacks descobriu o impacto global das células HeLa. Em 2013, um acordo foi firmado entre o NIH e os descendentes de Henrietta, permitindo que tivessem voz no acesso ao sequenciamento genético da linhagem 【NIH】.
Hoje, Henrietta é lembrada como símbolo da luta pela ética em pesquisa biomédica e pela equidade racial.
HeLa e as análises clínicas
No cotidiano dos laboratórios clínicos, as células HeLa tiveram papel fundamental em três aspectos:
Padronização de testes diagnósticos: permitindo validar métodos laboratoriais.
Estudos de biomarcadores: fundamentais para exames de triagem e monitoramento.
Segurança de medicamentos: avaliando a resposta celular antes de ensaios clínicos.
Com HeLa, conseguimos hoje oferecer resultados mais confiáveis e rápidos em análises clínicas, reforçando o elo entre pesquisa básica e prática laboratorial.
O que vimos até aqui:
Primeira linhagem celular humana imortal, descoberta em 1951.
Derivada de Henrietta Lacks, sem consentimento informado.
Fundamentais para pesquisas de câncer, vacinas, vírus e genética.
Mais de 70 mil artigos científicos publicados.
Cruciais para vacinas contra poliomielite e HPV.
Utilizadas também em pesquisas recentes sobre COVID-19.
História levanta debates éticos sobre consentimento e justiça social.
Até hoje, ajudam a padronizar exames e validar práticas em análises clínicas.
Conclusão
A história das células HeLa é, ao mesmo tempo, uma narrativa de avanço científico e de reflexão ética. Sem elas, talvez ainda estivéssemos distantes de conquistas que hoje parecem básicas, como vacinas ou terapias contra o câncer.
No entanto, a trajetória de Henrietta Lacks nos lembra que a ciência precisa andar lado a lado com o respeito à dignidade humana. Descomplicar as análises clínicas é também reconhecer que, por trás de cada tubo de ensaio, há vidas que contribuíram para chegarmos até aqui.
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