Check-up antes das férias: quais exames fazer e como se preparar para viajar com saúde

Planejando viajar? Veja por que fazer um check-up antes das férias pode evitar imprevistos, quais exames laboratoriais costumam ser pedidos e como adaptar o cuidado à sua idade, doenças crônicas e tipo de destino.

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Ariéu Azevedo Moraes

11/29/20258 min ler

Check-up laboratorial de férias
Check-up laboratorial de férias

Check-up antes das férias: por que vale a pena cuidar da saúde antes de embarcar

As férias costumam ser sinônimo de descanso, viagem, novas experiências, mas também de mudança de rotina, alimentação diferente, noites mal dormidas, deslocamentos longos e, muitas vezes, atividades físicas mais intensas do que o habitual. No meio de tudo isso, um ponto passa despercebido: como está a sua saúde para encarar esse “ritmo de férias”?

É aí que entra o check-up antes das férias, um conjunto de avaliações clínicas e laboratoriais que ajuda a identificar riscos, ajustar tratamentos, revisar medicações e garantir que o descanso não se transforme em um problema de saúde longe de casa.

Mais do que uma “exigência burocrática”, esse check-up funciona como uma estratégia de prevenção, especialmente para quem tem doenças crônicas, vai viajar por longos períodos, pretende fazer atividades intensas ou vai para regiões com riscos específicos (calor extremo, altitude, áreas remotas ou países com outras doenças endêmicas).

O check-up antes das férias é uma avaliação clínica e laboratorial feita algumas semanas antes da viagem para identificar riscos, ajustar medicações e verificar se doenças crônicas estão controladas. Dependendo da idade, histórico e destino, os exames podem incluir hemograma, glicemia, função renal e hepática, perfil lipídico, urina, fezes e, em alguns casos, exames cardiológicos ou sorologias, garantindo uma viagem mais segura e tranquila.

Por que pensar na saúde antes das férias?

Organizar passagem, hospedagem e roteiro é quase automático. Mas, do ponto de vista de saúde, férias também significam:

  • Mudança de alimentação (restaurantes, comidas típicas, street food);

  • Aumento do gasto energético (caminhadas, trilhas, passeios longos, parques, esportes);

  • Viagens longas de carro, avião ou ônibus, que podem agravar problemas circulatórios e desconfortos;

  • Rotina de sono diferente, com impacto em imunidade, glicemia e pressão arterial;

  • Exposição a climas diferentes (calor excessivo, frio intenso, altitude, umidade).

Por isso, ministérios da saúde e serviços de saúde do viajante recomendam que o planejamento da viagem inclua uma consulta de avaliação, de preferência algumas semanas antes de embarcar, para discutir riscos, atualizar vacinas, revisar doenças pré-existentes e, quando indicado, solicitar exames.

Essa avaliação não é só para quem vai para o exterior: viajar dentro do Brasil também pode envolver mudanças relevantes de clima, altitude, alimentação, exposição a vetores (mosquitos, carrapatos) e acesso a serviços de saúde.

Para quem o check-up antes das férias é ainda mais importante?

Qualquer pessoa pode se beneficiar, mas há grupos em que o check-up antes das férias ganha um peso maior:

  • Pessoas com doenças crônicas

    • Hipertensão, diabetes, cardiopatias, insuficiência renal, doenças hepáticas, doenças autoimunes, epilepsia, transtornos psiquiátricos, entre outras, podem exigir ajustes de dose de medicamentos, reforço de orientações e até restrição de determinadas atividades.

  • Idosos

    • Maior risco de desidratação, descompensações súbitas, infecções respiratórias, problemas cardíacos e dificuldades de mobilidade. Uma avaliação prévia ajuda a dimensionar o esforço possível na viagem.

  • Crianças

    • Verificar calendário vacinal, histórico recente de infecções, alergias, uso de medicamentos e se o destino exige cuidados específicos (por exemplo, febre amarela ou malária).

  • Gestantes

    • Viagens longas, calor excessivo e alguns destinos (especialmente áreas com malária ou certas viroses) podem exigir orientações especiais. Em muitos casos, é necessário o aval do pré-natal antes de viagens mais longas.

  • Pessoas que vão praticar esportes ou atividades intensas

    • Trilhas, mergulho, esportes de aventura e longas caminhadas exigem que a saúde cardiovascular e respiratória esteja minimamente avaliada.

  • Viajantes para áreas remotas ou países com exigência de vacinação

    • Alguns destinos pedem certificado internacional de vacinação (como febre amarela). Além disso, podem existir riscos de doenças infecciosas que exigem medidas preventivas específicas, como quimioprofilaxia ou repelentes adequados.

O que entra no check-up antes das férias?

O check-up de férias não é um pacote rígido de exames igual para todo mundo. Ele deve levar em conta:

  • idade,

  • histórico de doenças,

  • medicamentos em uso,

  • destino da viagem,

  • duração e tipo de atividades previstas.

Normalmente, envolve três grandes blocos: avaliação clínica, exames laboratoriais básicos e exames complementares conforme necessidade.

1. Avaliação clínica e revisão geral

Na consulta pré-viagem, o profissional de saúde deve:

  • revisar histórico clínico e familiar;

  • avaliar doenças crônicas e se estão compensadas (diabetes, hipertensão, asma, cardiopatias etc.);

  • checar uso de medicamentos, incluindo dose, horários e possíveis ajustes para fusos horários diferentes;

  • conferir alergias medicamentosas e alimentares;

  • verificar estado vacinal (rotina e vacinas recomendadas para o destino);

  • discutir atividade física prevista e eventuais restrições (ex.: esforço intenso em quem tem doença cardíaca não avaliada).

Em alguns casos, pode ser feita uma avaliação física completa (pressão arterial, ausculta cardíaca e pulmonar, exame geral) e, a partir daí, decidir quais exames laboratoriais fazem sentido.

2. Exames laboratoriais básicos mais comuns

Dependendo da idade e da condição clínica, o check-up antes das férias pode incluir:

  • Hemograma completo
    Ajuda a identificar anemia, infecções em atividade, alterações de plaquetas e alguns sinais indiretos de doenças crônicas.

  • Glicemia de jejum e, se indicado, hemoglobina glicada
    Importantes para quem já tem diagnóstico de diabetes ou está em risco. Viagens com alimentação diferente e rotina desregulada podem descompensar a glicemia.

  • Perfil lipídico (colesterol total, HDL, LDL, triglicerídeos)
    Ainda que não seja específico de viagem, muitos serviços aproveitam essa oportunidade para atualizar o controle de risco cardiovascular.

  • Função renal (ureia, creatinina, eTFG)
    Importante em pessoas com hipertensão, diabetes, idosos e quem usa medicamentos que podem afetar os rins. Desidratação durante a viagem pode agravar problemas renais pré-existentes.

  • Função hepática (TGO/AST, TGP/ALT, Gama-GT, fosfatase alcalina, bilirrubinas)
    Útil em quem faz uso de certos medicamentos, consome álcool com frequência, tem histórico de doença hepática ou planeja uma viagem em que o consumo de álcool pode aumentar.

  • Sumário de urina (EAS)
    Pode revelar infecções urinárias, perdas de proteína, glicose na urina e outras alterações que merecem atenção antes da viagem.

  • Fezes (parasitológico ou pesquisa específica)
    Em pessoas com queixas gastrointestinais, histórico de parasitose ou viagens recentes, pode ser útil avaliar antes de recomeçar deslocamentos.

Esses exames costumam aparecer em pacotes de check-up pré-viagem oferecidos por clínicas e hospitais, muitas vezes combinados com avaliação clínica e outros testes.

3. Exames complementares conforme idade, sexo e histórico

Além do básico, podem ser incluídos:

  • Eletrocardiograma (ECG)
    Especialmente em pessoas acima de 40–45 anos, com queixa de dor no peito, falta de ar, palpitações ou histórico familiar importante de doenças cardíacas.

  • Teste ergométrico ou ecocardiograma
    Para quem vai praticar atividade física intensa e já tem fatores de risco cardiovasculares.

  • Exames de imagem ou rastreios de rotina
    Ex.: mamografia, exame ginecológico, PSA, dependendo da faixa etária e das recomendações vigentes, lembrando que o objetivo principal aqui é aproveitar o momento de contato com o sistema de saúde para atualizar prevenção, não apenas “liberar” a viagem.

A lógica é sempre a mesma: personalizar o check-up em vez de sair pedindo todos os exames existentes.

Vacinas, sorologias e saúde do viajante

Para quem vai viajar, especialmente para fora do país ou para áreas brasileiras com risco de doenças específicas, o check-up antes das férias deve incluir a avaliação da caderneta de vacinação e, em alguns casos, de sorologias.

O Ministério da Saúde recomenda:

  • procurar um serviço de saúde entre 4 e 8 semanas antes da viagem, sempre que possível;

  • revisar o esquema de vacinas de rotina (hepatite B, tríplice viral, tétano, difteria, coqueluche, influenza, COVID-19, entre outras);

  • avaliar a necessidade de vacinas específicas para o destino, como febre amarela, hepatite A, meningite, raiva etc.

  • em alguns casos, emitir o Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP).

Dependendo do contexto e de fatores de risco individuais, o profissional pode solicitar sorologias (hepatites, sarampo, rubéola, catapora, entre outras) para confirmar imunidade e planejar melhor a proteção.

Check-up e tipo de destino: praia, campo, serra, exterior

Além do que já foi citado, o tipo de viagem também orienta o foco do check-up.

Destinos de praia e calor intenso

  • Risco maior de desidratação, insolação, infecções intestinais e viroses transmitidas por mosquitos (como dengue, chikungunya, Zika).

  • Vale reforçar exame e orientação em pessoas com doenças renais, cardíacas ou metabólicas, que sofrem mais em ambientes muito quentes.

  • Em alguns casos, é importante revisar uso de diuréticos, anti-hipertensivos e outros remédios que influenciam a regulação hídrica.

Destinos de serra, altitude ou trilhas

  • Podem exigir atenção redobrada em pessoas com doença pulmonar, asma, anemia significativa ou cardiopatias.

  • A avaliação prévia ajuda a entender o limite seguro de esforço e a necessidade de pausas, hidratação e, às vezes, de oxigênio suplementar em casos específicos.

Viagens internacionais e áreas endêmicas

  • Dependendo do país, podem existir orientações obrigatórias (como vacinas para entrada) e recomendações extras de profilaxia medicamentosa, uso de repelentes específicos, cuidados alimentares e de água.

  • É o cenário clássico em que a consulta em serviço de saúde do viajante faz toda a diferença, avaliando destino, tempo de permanência, roteiro e condições de saúde prévias.

Dicas práticas: organizando a saúde na mala

Além de realizar o check-up, algumas atitudes simples ajudam a transformar o resultado em segurança real durante a viagem:

  • Leve seus medicamentos de uso contínuo para todo o período da viagem (e um pouco além), sempre na embalagem original.

  • Tenha uma cópia da receita médica (em papel ou digital) útil em viagens internacionais e mesmo dentro do Brasil, caso precise de reposição.

  • Mantenha um resumo dos seus principais diagnósticos e alergias, incluindo tipo sanguíneo e contato de emergência.

  • Use ferramentas como o Meu SUS Digital para acessar histórico de vacinas e alguns exames, o que facilita o atendimento em outra cidade ou estado.

  • Monte um pequeno kit de primeiros cuidados, com analgésico, antitérmico, curativos, antialérgico (quando indicado), protetor solar e repelente sempre com orientação prévia sobre uso.

Como o laboratório entra nesse planejamento?

O laboratório clínico é parte estratégica do check-up antes das férias:

  • fornece dados objetivos sobre glicemia, função renal, hepática, hemograma e outros parâmetros;

  • ajuda a documentar o estado de saúde antes da viagem;

  • permite ajustes de conduta pelo médico, baseado em resultados confiáveis;

  • em algumas situações, pode comparar futuramente exames feitos durante ou após a viagem, caso surja algum problema de saúde.

Mais do que “pedir exame por pedir”, o ideal é que médico, paciente e laboratório conversem na mesma língua: resultados bem interpretados, explicados de forma clara e conectados ao contexto da viagem e à realidade da pessoa.

Vai lá arrumar as malas! Férias merecem descanso, e descanso merece saúde

Fazer um check-up antes das férias não é exagero, frescura nem “coisa de quem é hipocondríaco”. É uma forma inteligente de:

  • prevenir problemas que poderiam ser evitados;

  • ajustar o acompanhamento de doenças crônicas;

  • viajar com mais tranquilidade emocional;

  • aproveitar melhor o tempo de descanso com segurança.

Cada exame tem seu lugar, cada consulta tem sua função e o objetivo final é simples: que você volte das férias com boas lembranças, não com um prontuário cheio de intercorrências evitáveis.

Converse com seu médico, alinhe o que faz sentido para a sua realidade e, quando for ao laboratório, lembre-se: aquele resultado no papel é uma ferramenta para que a viagem dos sonhos não vire um pesadelo de pronto-socorro.

Boas férias, bons exames e boa saúde no caminho. ✈️🧪💚

Referências

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