Exames laboratoriais em crianças, desafios na coleta

Entenda os principais desafios da coleta e interpretação de exames laboratoriais em crianças, com dicas práticas para profissionais da saúde e informações essenciais para os pais.

COLETA E PREPAROHORMÔNIOS E VITAMINASHEMATOLOGIA

Ariéu Azevedo Moraes

4/21/20255 min ler

Óculos de realidade aumentada em criança, artifício para coleta de sangue
Óculos de realidade aumentada em criança, artifício para coleta de sangue

Quando falamos sobre exames laboratoriais em crianças, os desafios vão muito além da agulha.


O medo, a ansiedade, o jejum, o tempo de espera e até a presença dos pais no ambiente de coleta podem influenciar diretamente a experiência — e, em alguns casos, até o resultado.

Mas existe um ponto ainda mais sensível: criança não é adulto em miniatura.
Os valores de referência mudam conforme a idade e a fase de desenvolvimento. Isso significa que um resultado que pareceria “alterado” em um adulto pode ser perfeitamente esperado em um recém-nascido, lactente ou pré-escolar. E o inverso também é verdadeiro: pequenas alterações em pediatria podem ter peso clínico maior.

Por isso, a coleta e a interpretação de exames em pediatria exigem não apenas habilidade técnica, mas também sensibilidade, empatia e domínio do raciocínio laboratorial específico da infância. A atenção à fase pré-analítica, ao volume de amostra, ao tipo de tubo, ao tempo de processamento e ao contexto clínico é determinante para garantir um resultado confiável e evitar retrabalho.

Neste artigo, vamos explorar os principais desafios da rotina pediátrica no laboratório, com foco em boas práticas de coleta, comunicação com a família e cuidados interpretativos que fazem toda a diferença na qualidade assistencial.

A coleta em crianças: por que é tão desafiadora?

Exames laboratoriais em crianças exigem cuidados específicos na coleta e na interpretação, pois valores de referência variam com a idade e o desenvolvimento. Técnica adequada, empatia e atenção ao pré-analítico reduzem erros e aumentam a confiabilidade dos resultados.

Particularidades anatômicas e emocionais

A coleta de amostras biológicas em crianças apresenta obstáculos singulares:

  • Veias finas e delicadas, dificultando a punção;

  • Medo e resistência, especialmente em crianças pequenas;

  • Maior sensibilidade à dor e ao ambiente desconhecido;

  • Volume de sangue limitado: o total coletado deve ser rigorosamente controlado, especialmente em recém-nascidos.

Estratégias para minimizar o estresse

  • Técnicas de distração: brinquedos, música ou realidade aumentada;

  • Presença dos pais durante a coleta;

  • Profissionais treinados em abordagem lúdica e comunicação com crianças.

Principais exames laboratoriais em pediatria

Quando falamos de infância, o laboratório funciona como um “tradutor” do corpo em crescimento. Crianças não são adultos em miniatura, e isso vale especialmente para os exames: muitos resultados mudam conforme a idade, a fase de desenvolvimento e até o momento clínico. Por isso, entender os testes mais solicitados em pediatria ajuda a evitar interpretações apressadas e melhora muito a condução do cuidado.

Hemograma completo

O hemograma é um dos grandes protagonistas na rotina pediátrica. Ele ajuda a investigar anemias, infecções e diferentes distúrbios hematológicos, oferecendo uma leitura ampla do estado geral da criança. Um ponto crucial aqui é lembrar que os valores de referência variam bastante entre recém-nascidos, lactentes, crianças maiores e adolescentes. Ou seja: o mesmo número pode significar coisas diferentes dependendo da faixa etária.

EAS (Exame de Urina Tipo 1)

O EAS entra como um exame simples, mas muito poderoso. Na prática, ele é essencial para detectar infecções urinárias, um problema comum na infância e que, quando não identificado cedo, pode gerar complicações importantes. Além disso, o EAS também pode sugerir alterações inflamatórias, metabólicas ou até sinais iniciais de comprometimento renal.

Glicemia

A glicemia tem papel estratégico em diferentes fases da infância. No período neonatal, ela é útil para a triagem de hipoglicemia, uma condição que exige atenção rápida. Já em crianças maiores, o exame ganha força na investigação de diabetes tipo 1 e de distúrbios metabólicos. É um daqueles testes em que um número aparentemente simples pode carregar uma decisão clínica urgente.

Eletrólitos (sódio, potássio, cálcio)

Em pediatria, eletrólitos são quase um “painel de equilíbrio do organismo”. Eles ajudam a avaliar estado de hidratação, alterações relacionadas a vômitos, diarreias, febre prolongada e outras situações clínicas bem frequentes na infância. Sódio, potássio e cálcio também são fundamentais na investigação de distúrbios eletrolíticos que podem impactar coração, músculos e sistema nervoso.

Exames hormonais

Entre os hormonais mais importantes na rotina pediátrica, TSH e T4 livre se destacam. Eles são solicitados tanto no rastreamento neonatal quanto em casos de suspeita de disfunção tireoidiana ao longo do crescimento. Quando interpretados com contexto clínico e idade, esses exames ajudam a proteger um dos pontos mais sensíveis do desenvolvimento infantil: crescimento, metabolismo e maturação neurológica.

Interpretação de exames: um capítulo à parte

A importância dos valores de referência específicos por idade

Diferente dos adultos, as crianças têm padrões fisiológicos únicos que mudam conforme crescem. Um exemplo é a contagem de linfócitos:

  • Em recém-nascidos, linfócitos são elevados naturalmente;

  • Com o tempo, os neutrófilos passam a predominar;

  • O uso de valores adultos em crianças pode levar a erros graves de diagnóstico.

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) recomenda o uso de intervalos específicos por faixa etária e sexo, sempre associados ao quadro clínico do paciente.

Como os pais podem contribuir?

Comunicação e preparo

  • Explique o que vai acontecer de maneira tranquila e adequada à idade;

  • Evite mentiras: dizer que “não vai doer” pode gerar desconfiança futura;

  • Incentive o consumo de líquidos (se permitido) antes da coleta para facilitar a visualização das veias.

Orientação sobre o jejum

O jejum deve ser individualizado:

  • Crianças menores de 1 ano raramente devem jejuar por longos períodos;

  • Em muitos exames, como TSH, o jejum não é necessário;

  • Siga rigorosamente as orientações do laboratório.

Papel do profissional da saúde

Técnicas de coleta adaptadas

  • Uso de agulhas de pequeno calibre;

  • Tubos com volumes reduzidos (microtubos);

  • Coleta capilar em casos selecionados.

Abordagem humanizada

  • Acolhimento e empatia são tão importantes quanto a técnica;

  • Evitar contenções traumáticas e permitir o choro como válvula de escape emocional;

  • Reforçar positivamente a coragem da criança após o procedimento.

Considerações finais

A coleta e interpretação de exames laboratoriais em crianças exigem conhecimento técnico, sensibilidade e, acima de tudo, humanidade. Compreender as especificidades do público pediátrico garante não apenas resultados mais confiáveis, mas também experiências mais positivas, tanto para os pequenos quanto para suas famílias.

Referências

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