Exames Laboratoriais em Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs): Detecção, Diagnóstico e Prevenção

Conheça os principais exames laboratoriais para diagnóstico de ISTs como sífilis, HIV, gonorreia e clamídia. Saiba como funcionam, quando são indicados e por que são essenciais para a saúde pública e a biomedicina.

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Ariéu Azevedo Moraes

5/8/20254 min ler

Mulher com Epi's na bancada com um microscópio ao fundo e livros em sua frente
Mulher com Epi's na bancada com um microscópio ao fundo e livros em sua frente

Exames Laboratoriais em Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs): Detecção, Diagnóstico e Prevenção

Introdução

A história de Lucas, um jovem de 26 anos, começou com uma simples queixa de dor ao urinar. Por vergonha ou desconhecimento, ele demorou a procurar ajuda. Quando finalmente foi atendido, o exame revelou uma infecção por clamídia, uma das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais comuns entre adultos jovens. Como Lucas, milhões de brasileiros convivem com ISTs sem saber — o que pode levar a complicações graves e à transmissão silenciosa para parceiros.

Nesse cenário, os exames laboratoriais são aliados fundamentais no diagnóstico precoce, tratamento adequado e controle das ISTs. Eles são ferramentas valiosas para a saúde pública e para o trabalho de biomédicos, enfermeiros, infectologistas e profissionais da atenção básica.

Neste artigo, vamos explorar os principais exames laboratoriais utilizados para detectar as ISTs, com foco em métodos sorológicos, moleculares e microbiológicos, além de indicar os contextos clínicos mais frequentes para sua solicitação.

O que são ISTs e por que é importante diagnosticá-las precocemente?

As ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) são causadas por diferentes agentes, como bactérias, vírus e protozoários. Elas são transmitidas, principalmente, por contato sexual sem preservativo. Muitas vezes, são assintomáticas ou apresentam sinais inespecíficos, o que torna os exames laboratoriais essenciais para o diagnóstico.

O diagnóstico precoce:

  • Evita a evolução para formas graves (como neurossífilis ou cirrose hepática por hepatite B).

  • Reduz a transmissão para outras pessoas.

  • Permite o tratamento adequado e gratuito pelo SUS.

  • Contribui para o controle epidemiológico de doenças.

Principais exames laboratoriais para ISTs

1. Sífilis

A sífilis é uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum, e seu diagnóstico envolve testes não treponêmicos e testes treponêmicos:

  • VDRL (Venereal Disease Research Laboratory): exame não treponêmico usado para triagem e monitoramento de tratamento. Pode apresentar falso-positivo em outras condições.

  • FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption): teste treponêmico confirmatório.

  • Teste rápido para sífilis: utilizado em campanhas e na atenção primária à saúde, com resultado em até 30 minutos.

Recomendado para: gestantes (em todos os trimestres), pessoas com múltiplos parceiros, casos de úlcera genital ou contato com pessoas infectadas.

2. HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana)

O diagnóstico laboratorial do HIV evoluiu muito nos últimos anos. Os principais exames incluem:

  • Teste rápido imunocromatográfico: triagem inicial com resultado em 20 minutos.

  • ELISA de 4ª geração: detecta anticorpos anti-HIV e o antígeno p24.

  • Western Blot ou imunoblot: teste confirmatório (em desuso em algumas regiões).

  • Carga viral (PCR quantitativo): avalia o número de cópias do vírus no sangue.

  • CD4/CD8: importante para monitoramento da imunidade.

Recomendado para: populações-chave, parceiros sorodiscordantes, gestantes, doadores de sangue e em casos de exposição ocupacional.

3. Clamídia e gonorreia

Ambas são causadas por bactérias (Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae) e muitas vezes são assintomáticas.

  • PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): exame molecular altamente sensível, feito com amostras de urina ou swab uretral/vaginal.

  • Cultura bacteriana (para gonorreia): pode ser usada, mas é menos sensível e mais demorada.

  • Gram (em casos sintomáticos): identifica diplococos intracelulares no esfregaço uretral.

Recomendado para: gestantes, pessoas com sintomas urinários ou corrimento genital, vítimas de violência sexual e parceiros de pessoas infectadas.

4. Hepatites virais (B e C)

As hepatites B e C podem evoluir para cirrose e câncer hepático. Por isso, sua detecção é uma prioridade em saúde pública.

  • HBsAg, Anti-HBs, Anti-HBc IgG e IgM: marcadores sorológicos usados na triagem da hepatite B.

  • Anti-HCV: para hepatite C (triagem).

  • PCR para HBV ou HCV: detecta e quantifica a carga viral.

  • Teste rápido (HBV e HCV): disponíveis em unidades do SUS.

Recomendado para: gestantes, profissionais da saúde, usuários de drogas injetáveis, pessoas vivendo com HIV.

5. Herpes simples (HSV-1 e HSV-2)

O diagnóstico do herpes genital é, na maioria das vezes, clínico, mas exames podem ser solicitados em casos atípicos:

  • PCR (material da lesão): altamente sensível.

  • Sorologia IgG/IgM para HSV-1 e HSV-2: útil para triagem em casais com desejo reprodutivo.

Como são feitas as coletas para ISTs?

  • Sangue: para testes sorológicos como HIV, hepatites e sífilis.

  • Urina: ideal para PCR de clamídia e gonorreia, especialmente em homens.

  • Secreção vaginal, cervical ou uretral: usada para culturas, Gram e PCR.

  • Material de úlcera ou lesão: para herpes, sífilis ou cancroide.

  • Swab anal e oral: indicado em contextos específicos, especialmente para PCR.

Quando solicitar exames de IST?

  • Presença de sintomas como corrimento, dor pélvica ou feridas genitais.

  • Parceiro com diagnóstico confirmado.

  • Situações de risco (relação desprotegida, múltiplos parceiros).

  • Pré-natal (gestantes devem ser testadas para HIV, sífilis, hepatite B e C).

  • Avaliação de fertilidade e planejamento reprodutivo.

  • Check-ups periódicos para populações vulneráveis (LGBTQIA+, trabalhadores do sexo, usuários de drogas).

Importância dos exames na saúde pública e na biomedicina

  • Contribuem para o controle de surtos e campanhas nacionais de prevenção.

  • Permitem o monitoramento de casos crônicos, como HIV e hepatite B.

  • Estão integrados a programas como o PEP (profilaxia pós-exposição) e o PrEP (profilaxia pré-exposição).

  • Fortalecem o papel do biomédico e do laboratório clínico na linha de frente da prevenção.

Conclusão

As infecções sexualmente transmissíveis são um desafio silencioso e constante na saúde pública. Com o avanço dos métodos laboratoriais, é possível detectar precocemente essas infecções, interromper sua cadeia de transmissão e oferecer tratamento adequado aos pacientes.

O papel do laboratório é essencial nessa missão. Exames rápidos, precisos e acessíveis fazem a diferença entre o controle e o agravamento de uma IST. Cabe aos profissionais da saúde — especialmente os da área de análises clínicas — disseminar conhecimento, acolher o paciente e garantir um diagnóstico de qualidade.

Referências

  1. Ministério da Saúde – Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para ISTs

  2. CDC – STD Testing Recommendations

  3. UNAIDS – HIV Testing

  4. Sociedade Brasileira de Infectologia – Guias e Manuais

  5. Manual Técnico do Teste Rápido para Diagnóstico de Sífilis e HIV

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