Magnésio baixo e silencioso: quando a hipomagnesemia indica algo mais grave

A hipomagnesemia pode passar despercebida em exames de rotina, mas indicar doenças graves como síndrome de realimentação, alcoolismo crônico, diarreia persistente ou uso de certos medicamentos. Entenda os sinais, causas e a importância do magnésio nos exames laboratoriais.

BIOQUÍMICA

Ariéu Azevedo Moraes

11/2/20254 min ler

imagem fictícia de reposição de magnásio
imagem fictícia de reposição de magnásio

Magnésio: o eletrólito esquecido que fala muito sobre sua saúde

Na fila do laboratório, Ana aguardava o resultado de seus exames após semanas de cansaço, tremores nas mãos e câimbras persistentes. Nada demais no hemograma, potássio normal, cálcio dentro dos padrões. Mas o bioquímico pediu algo a mais: magnésio sérico.

O resultado? Hipomagnesemia. Um dado silencioso que explicava muito do que Ana sentia — e que poderia evoluir para arritmias, convulsões e outras complicações se não fosse descoberto a tempo.

Esse cenário não é incomum. O magnésio, muitas vezes negligenciado, é um dos principais eletrólitos intracelulares e tem papel crucial em funções neuromusculares, cardíacas e enzimáticas.

O que é hipomagnesemia?

A hipomagnesemia é definida como a redução dos níveis séricos de magnésio abaixo de 1,7 mg/dL (ou 0,7 mmol/L), podendo ser leve, moderada ou grave.

Embora muitas vezes assintomática nos estágios iniciais, pode evoluir para quadros clínicos sérios, como:

  • Espasmos musculares

  • Cãibras intensas

  • Tremores

  • Tontura

  • Convulsões

  • Arritmias cardíacas

  • Alterações no eletrocardiograma

  • Hipocalemia e hipocalcemia associadas

A hipomagnesemia não anda sozinha — ela frequentemente vem acompanhada de outros distúrbios eletrolíticos, o que pode confundir o diagnóstico se o magnésio não for avaliado de forma específica.

Causas da hipomagnesemia: o que pode estar por trás da queda do magnésio?

A hipomagnesemia é a redução dos níveis de magnésio no sangue e, mesmo sem sintomas evidentes, pode estar associada a arritmias, convulsões, fraqueza muscular e maior risco de complicações. É comum em internações, uso de diuréticos, síndrome de realimentação e condições crônicas.

Perdas gastrointestinais:

  • Diarreia crônica

  • Síndrome do intestino curto

  • Má absorção (como na doença celíaca)

  • Vômitos prolongados

  • Fístulas digestivas

Medicamentos:

  • Diuréticos de alça (como furosemida)

  • Inibidores da bomba de prótons (IBP)

  • Aminoglicosídeos

  • Cisplatina

  • Tacrolimus e ciclosporina

  • Anfotericina B

Doenças renais ou endócrinas:

  • Síndrome de Bartter e Gitelman

  • Hipomagnesemia familiar com hipocalcemia

  • Diabetes mellitus descompensado (poliúria)

  • Hiperaldosteronismo

Outras condições:

  • Alcoolismo crônico

  • Síndrome de realimentação (refeeding syndrome)

  • Estados de estresse metabólico

  • Queimaduras extensas

Importante: muitas dessas condições também provocam hipocalcemia e hipocalemia, e o magnésio precisa ser corrigido antes para que os outros eletrólitos sejam estabilizados.

Sinais e sintomas: quando o corpo dá o alerta

Embora a hipomagnesemia seja frequentemente silenciosa, os sintomas, quando aparecem, refletem o impacto do magnésio no sistema nervoso e muscular:

  • Neuromusculares: fraqueza, câimbras, tremores, parestesias

  • Neurológicos: irritabilidade, confusão mental, convulsões

  • Cardíacos: palpitações, arritmias, prolongamento do QT

  • Metabólicos: resistência à insulina, alterações no metabolismo do cálcio e potássio

Em ambientes hospitalares, especialmente nas UTIs, a hipomagnesemia pode aumentar o risco de complicações e mortalidade, especialmente em pacientes cirúrgicos ou em ventilação mecânica.

Interpretação do exame de magnésio: quais valores considerar?

Os valores de referência do magnésio sérico podem variar de acordo com o método utilizado pelo laboratório, mas, de forma geral, considera-se normal quando os níveis estão entre 1,7 e 2,3 mg/dL, o que indica um bom equilíbrio eletrolítico.

Quando os valores ficam entre 1,0 e 1,6 mg/dL, a hipomagnesemia é classificada como leve a moderada. Nessa faixa, o paciente pode não apresentar sintomas evidentes, o que torna o diagnóstico mais difícil sem investigação direcionada.

Já níveis abaixo de 1,0 mg/dL são considerados graves, com risco elevado de manifestações clínicas importantes, como arritmias, convulsões e alterações neuromusculares.

Vale destacar que o magnésio ionizado, forma biologicamente ativa e mais precisa para avaliação clínica, ainda não está amplamente disponível na maioria dos laboratórios de rotina

Quando solicitar o exame de magnésio?

É indicado solicitar magnesemia sérica em situações como:

  • Pacientes em uso crônico de diuréticos ou IBPs

  • Alcoolismo ou desnutrição

  • Diarreia prolongada

  • Diabetes mal controlado

  • Pós-operatório de grande porte

  • Hipocalcemia ou hipocalemia sem causa definida

  • Síndrome de realimentação

O exame é simples, realizado com sangue periférico. Não costuma exigir jejum, mas deve ser colhido preferencialmente sem uso de torniquete prolongado para evitar hemólise.

Conduta e tratamento da hipomagnesemia

A correção depende da gravidade e da causa subjacente. Pode ser feita por:

  • Reposição oral: indicada em casos leves e assintomáticos (uso de sais de magnésio como cloreto ou hidróxido)

  • Reposição venosa: em casos graves, com risco de arritmias, ou quando não há absorção oral adequada

  • Correção de outros distúrbios associados: como potássio e cálcio

A reposição deve ser cautelosa em pacientes com insuficiência renal, pois o magnésio é excretado principalmente pelos rins.

Magnésio na prática laboratorial: uma visão estratégica

O magnésio raramente é solicitado em exames de rotina. No entanto, para profissionais de saúde e laboratoristas, incluir a dosagem de magnésio em contextos clínicos suspeitos pode ser a chave para um diagnóstico preciso.

Além disso, o exame pode ser incluído em painéis eletrolíticos ampliados junto ao sódio, potássio, cálcio e fósforo.

Conclusão: um eletrólito que não pode ser ignorado

A hipomagnesemia é um marcador clínico importante, muitas vezes subestimado, que pode indicar desequilíbrios maiores, deficiências nutricionais ou até riscos cardiovasculares.

Reconhecer seus sinais e interpretar corretamente os exames de magnésio pode mudar o desfecho de um paciente.

Seja você estudante, biomédico, enfermeiro ou médico, olhar para o magnésio com mais atenção é também uma forma de prevenir, proteger e cuidar.

PipetaCalc

Quer interpretar melhor os exames laboratoriais com ferramentas inteligentes e gratuitas?

💻 Acesse a PipetaCalc e use nossas calculadoras de eletrólitos, função renal e muito mais.
🔗 pipetacalc.pipetaepesquisa.com.br

Referências

✍️ Por Ariéu Azevedo Moraes
Biomédico e Fundador da Pipeta e Pesquisa
Especialista em Gestão Laboratorial e Perícia Judicial

Confira esse vídeo
Saiba mais sobre esses artigos:

Icterícia com Bilirrubina Direta Elevada sugere colestase e possível obstrução biliar. Saiba como interpretar bilirrubinas em exames laboratoriais, diferenciar causas e entender a rota diagnóstica.

Descubra por que Seu Laboratório pode estar “no olho do furacão” em 2025 e veja um plano prático para cumprir a RDC 978/2025, ISO 15189:2022 e a era da IA.

Deixe seu comentário