Seu laboratório pode estar no olho do furacão: como atravessar 2025 com conformidade, eficiência e segurança do paciente

Descubra por que seu laboratório pode estar “no olho do furacão” em 2025 e veja um plano prático para cumprir a RDC 978/2025, ISO 15189:2022 e a era da IA.

CONSULTORIA E GESTÃO BIOMÉDICA

Ariéu Azevedo Moraes

11/2/202511 min ler

Representação 3D de desorganização em um laboratório
Representação 3D de desorganização em um laboratório

Por que “olho do furacão” em 2025?

Se você dirige um laboratório ou responde tecnicamente por EAC, já percebeu: as placas tectônicas regulatórias e tecnológicas se moveram. A ANVISA publicou a RDC 978/2025, substituindo a RDC 786/2023 e redefinindo requisitos técnico-sanitários para os serviços que realizam exames laboratoriais. Essa resolução, aprovada em 4 de junho e amplamente detalhada em materiais oficiais e de entidades parceiras, entra na vida real do laboratório exigindo governança clara, evidências documentais e competência operacional — inclusive para consultórios isolados com EAC.

Ao mesmo tempo, a ISO 15189:2022 promoveu uma virada: POCT (testes junto ao paciente) agora está dentro da 15189, substituindo a ISO 22870, e risco, rastreabilidade e governança ganharam centralidade — o que mexe na rotina de quem coordena desde a coleta até a liberação do laudo.

Para completar, IA e automação deixaram de ser “tendências” e passaram a interferir, na prática, em validação de métodos, revisão de resultados, redução de TAT e educação digital de equipes. Some-se a isso a PORTARIA GM/MS 8.276/2025, que padroniza o Modelo de Informação de Resultado de Exame Laboratorial (REL) e integra os laudos à RNDS — exigindo padrões unificados de dados e rotinas de envio, com reflexos diretos em LIMS, interoperabilidade e qualidade informacional.

Em resumo, 2025 pede convergência: regulação + qualidade + dados + tecnologia alinhados para proteger o paciente, comprovar competência e manter a competitividade do laboratório.

RDC 978/2025: o que muda para quem executa EAC

O escopo e os porquês

A RDC 978/2025 estabelece requisitos técnico-sanitários para o funcionamento de serviços que executam atividades relacionadas a EAC — do laboratório clínico tradicional a outros cenários onde exames são realizados. Ela revoga a RDC 786/2023 e reorganiza categorias, responsabilidades e evidências mínimas exigidas, com ênfase em segurança do paciente, biossegurança, rastreabilidade, controle de processos e competência das equipes.

Prazos e transição

Materiais técnicos e comunicados indicam janela de adequação na ordem de 90 dias a partir da publicação, exigindo plano de ação com prioridades (documentos críticos, infraestrutura, capacitação e verificação de conformidade). Essa leitura tem sido difundida por entidades de qualidade e apoio laboratorial.

Consultórios isolados, tipologias e complexidade

A norma define e diferencia “consultórios isolados” e tipifica serviços considerando complexidade, escopo e finalidade dos exames (p.ex., triagem vs. confirmação). Implica diretamente nas permissões, exigências de validação, rastreabilidade, responsabilidade técnica e controles de qualidade. Isso limita improvisos e fortalece a segurança do paciente.

Atenção, gestores de análises clínicas: 2025 traz um triplo desafio — RDC 978/2025 (ANVISA) com novas exigências para serviços que executam Exames de Análises Clínicas (EAC), ISO 15189:2022 com POCT integrado e foco robusto em risco e competência, e a aceleração de IA + automação impactando validação, TAT, comunicação e treinamento. Este guia mostra o que muda, o que comprovar e como priorizar nos próximos 90 dias para garantir conformidade, qualidade e segurança do paciente.

Evidências esperadas (o que você precisa mostrar)

  • Gestão de risco sanitário: avaliação de perigos em pré-analítico, analítico e pós-analítico; medidas de mitigação documentadas.

  • Rastreabilidade de amostras, insumos, kits, calibradores e cadeia de custódia (inclusive em POCT).

  • Manutenção e qualificação de equipamentos; registros de calibração e verificação metrológica.

  • Validação/verificação de método com critérios de desempenho (exatidão, precisão, linearidade, LoD/LoQ, intervalo de medição, interferentes comuns).

  • PCQI (procedimentos, critérios de aceitação e ações) em CQI (interno) e CQE (externo); análise crítica de conformidade e tendências.

  • Treinamento, competência e autorização de operadores, com trilhas formativas e avaliações periódicas.

  • Plano de resposta a incidentes e desvios (incluindo conduta diante de resultados críticos/discordantes e notificação quando aplicável).

  • Infraestrutura e biossegurança: fluxo limpo/sujo, EPIs/EPCs, gerenciamento de resíduos, limpeza validada e profilaxias.

Mensagem-chave: A 978/2025 cria uma “ponte” com sistemas de gestão da qualidade e normas internacionais, exigindo governança, medição e melhoria contínua.

ISO 15189:2022 — a ênfase em risco, competência e POCT

O salto em relação à versão anterior

A ISO 15189:2022 foi profundamente revisada. Três mudanças “puxam” a maturidade do laboratório:

  1. Gestão de riscos integrada aos processos;

  2. Melhoria contínua baseada em indicadores;

  3. POCT incorporado (a antiga ISO 22870 deixa de existir como trilho paralelo).

O que isso significa no chão do laboratório

  • POCT sob a mesma régua: onde quer que o exame aconteça (UTI, ambulatório, farmácia, homecare), valem as mesmas obrigações de rastreabilidade, controle de qualidade e competência. É comum a exigência de um responsável pelo POCT com treinamento e autoridade para supervisionar conformidade, registros e melhorias.

  • Indicadores e revisão pela direção: TAT, rejeição de amostras, frequência de resultados críticos, taxa de repetições, erro pós-analítico — são monitorados, analisados e rebatidos em ações corretivas e preventivas.

  • Competência técnica documentada: matriz de competências por técnica/equipamento; avaliações; reautorização periódica.

  • Gestão de mudanças: toda introdução de método/kit/sistema passa por análise de impacto em risco e desempenho; documentação antes do “go live”.

Mensagem-guia: “Não basta fazer certo; é preciso conseguir provar que fez certo — e aprender com os dados para fazer melhor.”

Portaria GM/MS 8.276/2025 — REL e RNDS: padrões de dados e interoperabilidade

A Portaria institui o Modelo de Informação de Resultado de Exame Laboratorial (REL) e define o envio à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Na prática, isso exige padronização de estrutura e conteúdo do laudo (identificadores, unificação de nomenclaturas, unidades e metadados), além de rotinas de integração entre LIMS e RNDS. Isso apoia vigilância, continuidade de cuidado e analytics de saúde pública, mas pede adequações técnicas e de qualidade de dados por parte dos laboratórios.

O que revisar no seu ambiente:

  • Mapa de campos do laudo vs. REL;

  • Codificações padrão (p.ex., LOINC/SNOMED, quando aplicável);

  • Unidades e intervalos de referência;

  • Assinaturas digitais e trilhas de auditoria;

  • Retentativas de envio, logs e reconciliação;

  • Política de privacidade, LGPD e segurança da informação.

IA e automação — do discurso à prática segura e auditável

Onde a IA já traz resultado

  • Validação/verificação de métodos: modelos analisam distribuições, tendências e outliers, sugerindo investigações antes da liberação.

  • Revisão técnica assistida: regras e modelos priorizam resultados críticos/discordantes; exceções viram relatórios.

  • TAT e logística: agendamento inteligente, esteiras e robôs reduzem fila, variabilidade e retrabalho.

  • Educação digital: trilhas de treinamento com microlearning, simuladores de casos e avaliações automáticas; registro de competência pronto para auditoria.

  • Comunicação com pacientes: portais e chat com explicações padronizadas, evitando alarmismo e melhorando adesão a repetições/confirmatórios.

Como alinhar IA às normas

  1. Transparência e rastreabilidade: documente versão do modelo, dados de treino/validação (ou a origem do serviço), critérios de uso e limitações.

  2. Validação clínica: compare desempenho do algoritmo vs. padrão-ouro; defina limites de intervenção humana.

  3. Gestão de risco: registre falhas previsíveis (viés, drift, alucinações) e controles (revisão humana, regras de bloqueio).

  4. Segurança e LGPD: minimização de dados, criptografia, gestão de acesso e logs.

  5. Ciclo de vida: monitoramento contínuo do desempenho; plano de rollback.

Ponto de atenção: se a IA influencia a decisão de liberação ou reclassifica resultados (priorização, flags, comentários), trate como processo validável dentro do SGQ e audite como faria com qualquer instrumento.

Plano de 90 dias: como sair da teoria e entregar resultados

0–15 dias: diagnóstico e riscos críticos

  • Leitura dirigida: equipe gestora e técnica revisam a RDC 978/2025 (incluindo P&R oficiais) e listam lacunas por capítulo/processo.

  • Mapeamento de risco (pré/analítico/pós) com matriz: probabilidade × impacto; controles existentes; plano de mitigação.

  • POCT: inventário completo (locais, operadores, kits, CQ, manutenção, trilhas de competência); indicação de responsável pelo POCT.

  • REL/RNDS: alinhe TI + Qualidade para mapear campos e lacunas LIMS frente ao REL (modelo, codificações, logs).

15–45 dias: correção de rota e evidências

  • Documentos e registros: atualize POPs, instruções de trabalho, formulários, registros de CQ, manutenção, calibração, verificação metrológica.

  • Validação/Verificação de método: retro-documente evidências (design, critérios, resultados, conclusão, limites de uso) e faça complementos se necessário.

  • Competência e trilhas formativas: matriz de competências por técnica/equipamento; avaliações e reautorização.

  • POCT: implemente CQI/CQE e rastreabilidade de amostras/insumos também no POCT; auditorias internas por amostragem.

  • REL/RNDS: provas de conceito de integração + ambiente de homologação; defina rotina de reconciliação (envios, falhas, retentativas).

45–90 dias: sustentação e melhoria

  • KPIs e revisão pela direção: TAT, rejeição, críticos, repetição, conformidade de CQ, incidentes e ações; ata da revisão gerencial.

  • Auditoria interna: verifique aderência a 978/2025 e 15189:2022, com relatório de não conformidades, planos de ação, prazos e responsáveis.

  • Educação digital: consolide microtreinamentos e simulações de casos; registre evidências de competência.

  • Governança de IA/automação: manual de uso, controles, logs, responsável pelo algoritmo e plano de desempenho.

Checklist rápido de conformidade

Regulatório & SGQ

  • Política de qualidade, escopo e responsabilidades atualizados (incluindo POCT).

  • Matriz de risco com planos de mitigação e evidências.

  • POPs e registros revisados (coleta, transporte, recebimento, analítico, laudo, armazenamento e descarte).

  • Auditoria interna e revisão pela direção com atas e planos de ação.

Validação & CQ

  • Dossiês de validação/verificação por método, com critérios claros.

  • CQI/CQE com tendências, sigma (quando aplicável) e ações.

  • Manutenção/calibração/qualificação com certificados e prazos em dia.

Competência & POCT

  • Matriz de competências por técnica/equipamento; registros de treinamento e reautorização.

  • Responsável por POCT nomeado; rotinas de CQ e rastreabilidade no POCT.

Dados & Interoperabilidade

  • Mapeamento REL no LIMS; padrões de codificação e unidades harmonizadas.

  • Rotina de envio à RNDS, com logs, retentativas e política de privacidade/LGPD.

IA & Automação

  • Inventário de algoritmos e regras que impactam decisões.

  • Validação clínica e governança (responsável, limites, logs, rollback).

  • Monitoramento contínuo do desempenho e gestão de mudanças.

Como comunicar isso para o time

Não é “mais papel”; é segurança e valor. Explique que a 978/2025 e a 15189:2022 protegem o paciente e o próprio laboratório, reduzindo risco legal e aumentando a confiança de médicos, pacientes e parceiros. Mostre ganhos práticos:

  • Menos retrabalho com processo padronizado e evidências prontas.

  • Mais previsibilidade com indicadores e revisão gerencial.

  • Menos surpresa em auditorias; respostas rápidas com documentação organizada.

  • POCT sob controle; mesmo padrão de qualidade dentro e fora do laboratório.

  • Interoperabilidade com RNDS; dados úteis para a clínica e para a saúde pública.

E vincule à estratégia: conformidade, reputação e eficiência são diferenciais competitivos num mercado mais exigente.

Erros comuns

  1. Tratar POCT como “exceção”: a 15189:2022 “puxa” o POCT para dentro do SGQ — mesmo rigor.

  2. Validar método “apenas no começo”: faltam reverificação e monitoramento de desempenho.

  3. Risco genérico: matriz “para inglês ver”, sem priorização e mitigação.

  4. Competência informal: “treinou, sabe fazer”. Sem evidência, não existe.

  5. REL/RNDS no fim do projeto: integração precisa de tempo (mapa de dados + TI + qualidade).

  6. IA sem governança: usar como “caixa preta” sem validação, limites e logs.

KPIs que realmente mostram maturidade

  • TAT por tipo de exame (percentis; SLA por prioridade).

  • Taxa de rejeição de amostras (motivo, setor origem, tendência).

  • Resultados críticos (tempo até notificação documentada).

  • Não conformidades (por processo; tempo de resolução).

  • Conformidade de CQI/CQE (erros sistemáticos vs. aleatórios).

  • POCT: taxa de CQ conforme, repetições, captação de desvios.

  • REL/RNDS: % de envios com sucesso, tempo de reconciliação, incidência de inconsistências.

Modelo de mensagem para pacientes e médicos

Para pacientes:
“Seu exame foi realizado sob um sistema de qualidade alinhado às exigências nacionais e internacionais. Caso haja qualquer resultado crítico, nossa equipe entra em contato imediatamente, seguindo protocolos padronizados. Em caso de dúvidas, você conta com canais oficiais para esclarecimentos.”

Para médicos solicitantes:
“O laboratório adota validação e controle de qualidade contínuos e rastreáveis. POCT utilizado em ambientes assistenciais está sob governança técnica. Laudos seguem modelo padronizado compatível com a RNDS, facilitando integração com prontuários e monitoramento longitudinal.”

Conclusão: serenidade no olho do furacão

Entrar em 2025 sem um plano claro para a RDC 978/2025, ISO 15189:2022 (incluindo POCT) e REL/RNDS é aceitar navegar às cegas em mar revolto. Mas há método: diagnóstico de lacunas, priorização por risco, evidência documental, indicadores, auditorias internas e governança de dados/IA. O laboratório que transforma conformidade em rotina colhe segurança do paciente, menos retrabalho e reputação — e se posiciona para crescer num ecossistema de saúde cada vez mais integrado e digital.

Mensagem final para o time:Qualidade é cultura, não check-list. Cada evidência que produzimos é um compromisso público com a segurança do paciente e com a confiança da sociedade no que fazemos.”

Muita coisa, né? Porém podemos te ajudar.


A Pipeta e Pesquisa tem consultoria mão-na-massa para tirar seu laboratório do “olho do furacão” e colocar processos, evidências e pessoas no eixo. Unimos expertise regulatória (RDC 978/2025, ISO 15189:2022, REL/RNDS) a ferramentas próprias que reduzem retrabalho, organizam seus POPs e provam a conformidade nas auditorias.

Como ajudamos, na prática

  • Mapeamento de lacunas + plano de 90 dias: risco, documentos, competência, POCT e dados para RNDS.

  • Padronização e auditoria interna: revisão de POPs, formulários, trilhas de competência e indicadores.

  • Rotas rápidas para evidência: o que registrar, onde registrar e como apresentar à fiscalização.

  • Treinamento com trilhas e simulados: capacitação objetiva, comprovação de competência e reautorização.

PipetaCheck — seu “hub” de qualidade e conformidade

Exemplo de app proprietário Pipeta e Pesquisa: PipetaCheck (web).
Use para centralizar e provar o seu Sistema de Gestão da Qualidade:

  • POPs, ITs e formulários versionados com controle de acesso e histórico.

  • Checklists inteligentes (coleta, pré/analítico/pós, limpeza, manutenção, rastreabilidade).

  • Evidências de CQI/CQE anexadas ao processo (prints, PDFs, relatórios).

  • Trilhas de treinamento por função/equipamento, com quizzes, assinatura e data de revalidação.

  • Painel de conformidade: status de documentos, competências a vencer, pendências de auditoria.

  • Exportação para auditorias: dossiês e relatórios prontos (RDC 978/2025, ISO 15189:2022, POCT).

Resultado: menos planilha solta, mais rastreabilidade e respostas rápidas em inspeções e visitas técnicas.

Pipeta Store — conteúdo que acelera a implantação

Precisa de material pronto para treinar, comunicar e padronizar?

  • E-books (qualidade, pré-analítico, biossegurança, indicadores, POCT).

  • Infográficos de coleta (pré-coleta, preparo do paciente, tubos, interferentes) para imprimir e fixar em salas.

  • Apresentações para treinamento (PPT/Google Slides) com roteiros e exercícios.

  • Kits temáticos (ex.: “ISO 15189 + POCT”, “RDC 978 + Auditoria Interna”, “REL/RNDS”).

Você escolhe o tema, adapta com a sua logo, e treina a equipe no mesmo dia.

Vamos conversar?

Se seu laboratório precisa padronizar, documentar e provar competência com rapidez, fomos feitos para ajudar você a passar por essa adequação.

Proposta em 3 passos:

  1. Diagnóstico gratuito de 30 minutos (on-line): entendemos seu escopo, riscos e prazos.

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  • Objetivo: sair com um plano de 90 dias, checklists ativos e evidências auditáveis nosso Whatzapp está no começo da página no lado das redes sociais.

Referências

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