Testosterona e Infarto do Miocárdio: O que os exames laboratoriais podem revelar antes de um evento cardíaco?

Pesquisas revelam: a testosterona pode cair semanas antes de um infarto. Veja o que isso significa, os sinais de alerta e como os exames laboratoriais ajudam na prevenção.

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Ariéu Azevedo Moraes

8/8/20256 min ler

Coração com rítimo cardíaco e bonecos ao lado
Coração com rítimo cardíaco e bonecos ao lado

Testosterona e Infarto do Miocárdio: O que os exames laboratoriais podem revelar antes de um evento cardíaco?

Quando se fala em testosterona, muita gente ainda associa esse hormônio apenas à libido ou ao ganho de massa muscular. De fato, esses são efeitos conhecidos, mas a ciência moderna tem mostrado que a testosterona vai muito além disso, exercendo um papel vital na saúde geral de homens e mulheres — especialmente quando o assunto é o coração.

Em 2023, um estudo publicado no American Journal of Cardiology trouxe um dado surpreendente: os níveis de testosterona caem significativamente cerca de 30 dias antes de um infarto do miocárdio, tanto em homens quanto em mulheres. A descoberta abriu uma nova linha de investigação na medicina preventiva e alertou os profissionais de saúde sobre a importância do monitoramento hormonal na prática clínica.

Neste artigo, você vai entender:

  • O que é a testosterona e quais são suas funções além da sexualidade;

  • Como o hormônio se relaciona com a saúde cardiovascular;

  • Quais evidências científicas ligam a testosterona ao risco de infarto;

  • Como exames laboratoriais podem atuar como aliados na prevenção;

  • E por que tanto homens quanto mulheres devem estar atentos aos seus níveis hormonais ao longo da vida.

O que é a testosterona e como ela age no corpo?

A testosterona é um hormônio do grupo dos andrógenos, produzido principalmente pelos testículos nos homens e pelos ovários nas mulheres, além das glândulas adrenais. Apesar de ser frequentemente rotulada como “hormônio masculino”, ela também é fundamental para a saúde feminina.

Veja algumas de suas funções mais relevantes:

  • Manutenção da massa muscular e força;

  • Proteção contra a sarcopenia (perda de massa magra com o envelhecimento);

  • Promoção da saúde óssea;

  • Regulação do humor e da energia;

  • Influência direta na libido;

  • Capacidade de recuperação física após lesões ou esforço;

  • Controle do acúmulo de gordura corporal.

Em mulheres, a testosterona participa de vários processos fisiológicos, mesmo em concentrações bem mais baixas que nos homens. Sua importância, porém, é proporcional ao equilíbrio necessário para o bom funcionamento do organismo.

A surpreendente queda antes do infarto: o estudo de 2023

Pesquisadores austríacos conduziram um estudo que analisou amostras de cabelo de pacientes que sofreram infarto do miocárdio. As amostras permitiram a análise retrospectiva de níveis hormonais ao longo dos meses anteriores ao evento cardíaco.

Os resultados foram claros:

  • Em homens, os níveis médios de testosterona caíram de aproximadamente 2,84 para 2,10 pg/mg;

  • Em mulheres, a queda foi de 1,43 para 1,10 pg/mg;

  • A redução ocorreu de forma significativa um mês antes do infarto;

  • Três meses antes do evento, os níveis estavam normais.

Esse estudo, publicado na American Journal of Cardiology, sugere que a queda da testosterona pode não ser apenas uma consequência do infarto, mas parte do processo fisiopatológico que o antecede.

📌 Leia o estudo completo aqui (PubMed)

Outras evidências reforçam a ligação entre testosterona e saúde cardiovascular

Além da pesquisa de 2023, outros estudos vêm aprofundando o entendimento da relação entre testosterona e risco cardiovascular:

  • Estudo de coorte com homens com hipogonadismo (baixa testosterona) mostrou que cada aumento de 1 nmol/L nos níveis do hormônio estava associado a 22% menos risco de infarto do miocárdio. Isso após mais de 10 anos de acompanhamento clínico.
    🧾 Fonte: Journal of Men's Health – 2022

  • Em outra análise com mais de 1.700 pacientes submetidos a cateterismo, aqueles que sofreram infarto apresentavam níveis mais baixos de testosterona total e livre do que pacientes com angina estável.
    🧾 Fonte: PMC – 2024

  • Uma pesquisa do UK Biobank usando dados genéticos indicou que pessoas com predisposição a níveis persistentemente altos de testosterona tinham risco cardiovascular levemente aumentado.
    🧾 Fonte: The BMJ – 2019

Essa última evidência mostra que o equilíbrio hormonal é o mais importante — tanto os níveis muito baixos quanto os excessivamente altos podem representar risco.

Por que a testosterona protege o coração?

A relação entre testosterona e saúde cardiovascular ainda está sendo estudada, mas algumas teorias têm respaldo científico:

  • Efeito vasodilatador: a testosterona promove a dilatação dos vasos sanguíneos, melhorando a circulação e a pressão arterial;

  • Redução da inflamação: baixos níveis de testosterona estão ligados a aumento de marcadores inflamatórios como PCR e IL-6, associados ao risco cardiovascular;

  • Melhora do metabolismo: o hormônio ajuda a regular o colesterol, a insulina e a distribuição de gordura corporal;

  • Proteção endotelial: favorece a integridade do endotélio, a camada que reveste os vasos sanguíneos, diminuindo o risco de formação de placas ateroscleróticas.

A testosterona nas mulheres: um alerta que ainda passa despercebido

Muitas mulheres desconhecem a importância da testosterona em seu organismo. Embora presente em menores quantidades, ela atua diretamente na libido, no bem-estar emocional, na densidade óssea e na disposição física.

Durante a menopausa, ocorre uma queda significativa da testosterona, o que pode contribuir para:

  • Fadiga constante;

  • Diminuição do desejo sexual;

  • Redução da massa magra;

  • Aumento do risco cardiovascular;

  • Piora na qualidade do sono.

Infelizmente, a reposição hormonal em mulheres ainda é cercada de preconceitos e mitos. Porém, com avaliação médica e exames laboratoriais, é possível detectar desequilíbrios e propor estratégias seguras e personalizadas.

Sinais clínicos de testosterona baixa

Tanto homens quanto mulheres devem estar atentos aos seguintes sinais, que podem indicar uma deficiência androgênica:

  • Cansaço sem causa aparente;

  • Diminuição do desempenho físico;

  • Perda de massa muscular;

  • Queda da libido;

  • Aumento da gordura abdominal;

  • Depressão leve ou irritabilidade;

  • Dificuldade de concentração;

  • Sono não reparador.

Esses sintomas podem ser confundidos com estresse, sobrecarga ou envelhecimento, mas muitas vezes têm origem hormonal.

Quais exames laboratoriais ajudam a avaliar a testosterona?

Para investigar os níveis hormonais, os exames mais solicitados são:

  • Testosterona total: mede a quantidade total do hormônio no sangue;

  • Testosterona livre: avalia a fração biodisponível;

  • SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais): interfere na quantidade de testosterona livre;

  • Índice de testosterona livre (calculado): combinação entre testosterona total e SHBG;

  • Outros exames complementares: hemograma, glicemia, insulina, perfil lipídico, PCR, TSH, T4 e enzimas hepáticas podem auxiliar no diagnóstico metabólico associado.

📌 A interpretação deve sempre ser feita por um profissional da saúde, considerando sintomas, faixa etária e contexto clínico.

Como melhorar os níveis naturais de testosterona?

Antes de pensar em suplementação, é possível adotar hábitos que favorecem a produção natural de testosterona. Veja algumas estratégias:

  • Pratique exercícios de força: musculação, treino funcional ou exercícios resistidos estimulam a liberação hormonal;

  • Durma bem: o sono profundo e restaurador é essencial para o eixo hormonal;

  • Controle o estresse: o cortisol elevado suprime a produção de testosterona;

  • Evite álcool e cigarro: essas substâncias interferem na produção hormonal e na saúde cardiovascular;

  • Alimente-se com qualidade: zinco, magnésio, vitamina D, gorduras boas e proteínas são aliados da testosterona;

  • Mantenha o peso saudável: a gordura visceral reduz a produção androgênica.

Quando essas ações não são suficientes, a terapia de reposição hormonal (TRT) pode ser indicada, desde que com prescrição e acompanhamento profissional.

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Conclusão: a testosterona é mais do que um hormônio sexual

A testosterona está longe de ser apenas um marcador de virilidade. Como vimos, ela é um elo entre o sistema endócrino, metabólico e cardiovascular, sendo um sinal de alerta precoce para eventos graves, como o infarto do miocárdio.

O estudo de 2023 não está sozinho. Outras pesquisas mostram que monitorar e manter a testosterona em níveis saudáveis pode ser uma estratégia de prevenção poderosa — especialmente para quem busca longevidade e qualidade de vida.

Homens e mulheres, jovens e idosos: todos se beneficiam de uma visão mais integrada da saúde hormonal. E os exames laboratoriais são grandes aliados nesse processo.

👉 Cuide do seu coração antes que ele reclame.
👉 Cuide dos seus hormônios antes que falem por você.

Referências

  1. Decreased Testosterone Levels Precede a Myocardial Infarction in Both Men and Women – PubMed

  2. Longitudinal changes in testosterone and incident myocardial infarction – Journal of Men’s Health

  3. Association of Low Testosterone With Severity of Coronary Artery Disease – PMC

  4. Testosterone and cardiovascular risk: A Mendelian randomisation study – BMJ

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