O fungo que come plástico: a surpreendente descoberta da Pestalotiopsis microspora e o que ela ainda pode nos ensinar
Descubra como o fungo amazônico Pestalotiopsis microspora é capaz de degradar plásticos resistentes, como o poliuretano, até em ambientes sem oxigênio.
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Ariéu Azevedo Moraes
8/8/20254 min ler


O fungo que come plástico: a surpreendente descoberta da Pestalotiopsis microspora e o que ela ainda pode nos ensinar
Na busca por soluções mais sustentáveis para a crise do plástico, uma descoberta feita há mais de uma década ainda continua dando o que falar. Você provavelmente já viu nas redes sociais a imagem de um fungo crescendo em uma garrafa PET no meio da floresta, acompanhada da promessa de que a natureza pode nos ajudar a combater a poluição plástica. Mas será que isso é verdade? E mais importante: o que diz a ciência?
Neste artigo, revisitamos o estudo que revelou a incrível capacidade de um fungo amazônico de degradar plásticos resistentes, como o poliuretano — mesmo em condições extremas. A descoberta pode não ser tão recente quanto muitos pensam, mas seu potencial ainda é altamente atual e promissor.
Onde tudo começou: a descoberta em 2011
Em 2011, estudantes da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, realizaram uma expedição científica ao Equador, na região amazônica. Foi ali que identificaram um microrganismo incomum: o fungo endofítico Pestalotiopsis microspora, capaz de degradar poliuretano, um dos plásticos mais difíceis de serem quebrados pela natureza.
A pesquisa foi publicada no periódico Applied and Environmental Microbiology, com o título:
"Biodegradation of Polyester Polyurethane by Endophytic Fungi", de Jonathan Russell, Pria Anand, Scott W. Stamm, e os professores U. Strobel e Scott Strobel.
Os pesquisadores não apenas descobriram que o fungo era capaz de se alimentar exclusivamente de poliuretano, mas também que ele conseguia fazer isso em ambientes anaeróbicos — ou seja, sem oxigênio, como nos aterros sanitários.
O que é poliuretano e por que isso é tão impressionante?
O poliuretano é um tipo de plástico usado em uma ampla gama de produtos:
Espumas para estofados e colchões
Solados de sapatos
Isolamentos térmicos
Revestimentos e tintas industriais
Embalagens resistentes
Sua durabilidade é justamente o que o torna um problema ambiental. A degradação natural do poliuretano pode levar centenas de anos — se acontecer. Ele não é facilmente atacado por bactérias ou fungos comuns, e sua presença em lixões e oceanos representa um passivo ambiental crescente.
A capacidade da Pestalotiopsis microspora de degradar esse plástico em condições anaeróbicas abre uma janela de possibilidades. Esse processo poderia, teoricamente, acontecer dentro de aterros, onde outros microrganismos não têm desempenho eficiente.
Por que esse estudo de 2011 voltou à tona agora?
Nos últimos anos, várias publicações em redes sociais e páginas de divulgação científica passaram a ressignificar descobertas científicas mais antigas, trazendo à tona estudos relevantes que continuam impactantes.
É o caso do estudo sobre a Pestalotiopsis microspora. Apesar de não ser uma descoberta nova, ela permanece extremamente atual em função dos debates sobre:
A crise global do plástico
A urgência por soluções biodegradáveis
A importância de biotecnologias baseadas em organismos naturais
O avanço das pesquisas em biorremediação
A floresta amazônica, mais uma vez, revela um potencial oculto de inovação.
E o Brasil com isso?
Apesar da descoberta ter ocorrido no Equador, a floresta amazônica é um bioma compartilhado por vários países, incluindo o Brasil. O potencial biotecnológico da região amazônica ainda é pouco explorado. Pesquisas como essa reforçam a importância de preservar a biodiversidade, não apenas por questões ecológicas, mas também por sua capacidade de gerar soluções científicas e tecnológicas inovadoras.
Importante: ainda não é solução em larga escala
Antes de imaginarmos embalagens se autodegradando com fungos ou aterros se limpando sozinhos, é importante entender que:
Ainda estamos longe de aplicar esse processo em escala industrial.
A degradação promovida pelo fungo é lenta e depende de condições controladas.
A biotecnologia precisa avançar para que esse tipo de microrganismo seja usado de forma segura e eficiente.
No entanto, a pesquisa abre um novo caminho para estudos sobre enzimas fúngicas e engenharia genética, com foco na degradação de materiais resistentes.
Inovação na prática: o que a ciência está estudando atualmente?
Desde 2011, outras pesquisas vêm sendo feitas com base nesse estudo pioneiro, buscando entender:
Quais enzimas específicas promovem a quebra do poliuretano
Se é possível modificar geneticamente o fungo para torná-lo mais eficiente
Como replicar esse comportamento em biorreatores industriais
A viabilidade de aplicar fungos em biorremediação de lixões urbanos
Pesquisas similares vêm sendo conduzidas com bactérias capazes de degradar PET, como a famosa Ideonella sakaiensis, e também com larvas de insetos que digerem plástico. A natureza tem mostrado soluções que só agora começamos a compreender.
Por que ainda falamos desse fungo mais de 10 anos depois?
A ciência não envelhece como notícias de jornal. Uma descoberta como essa não perde relevância com o tempo, especialmente diante de um problema que ainda não foi resolvido: o acúmulo de plásticos no meio ambiente.
A Pestalotiopsis microspora tornou-se símbolo da esperança científica na busca por alternativas sustentáveis. Mesmo que a aplicação prática ainda esteja distante, seu estudo:
Estimula novos projetos de pesquisa
Reforça a importância da bioprospecção
Mostra que a solução para grandes problemas pode estar escondida em pequenos organismos
Uma descoberta que inspira, mesmo com o tempo
Nem toda boa ideia precisa ser nova para ser revolucionária. A descoberta da Pestalotiopsis microspora em 2011 continua sendo um marco na história da biotecnologia ambiental e inspira estudos até hoje.
Mesmo que ainda não tenhamos encontrado a fórmula mágica para acabar com o plástico, a natureza já deu o primeiro passo. Cabe à ciência entender, replicar e aperfeiçoar esses processos.
💚 Que outras soluções incríveis estariam escondidas na floresta, esperando para serem descobertas?
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Referências
Yale Daily News, 2012 – Fungus could help clean landfills
Science Alert – 2018
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