Troponina I e T: o que são, quando dosar e como interpretar nos exames laboratoriais

Entenda o que são as troponinas I e T, quando solicitar o exame, como interpretar os resultados e por que elas são mais sensíveis e específicas que CK e CK-MB no diagnóstico de infarto.

BIOQUÍMICA

Ariéu Azevedo Moraes

9/12/20254 min ler

Marcadores Cardíacos
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Troponina I e T: o que são, quando dosar e como interpretar nos exames laboratoriais

A troponina é considerada atualmente o marcador cardíaco mais específico e sensível para lesão do miocárdio. Utilizada amplamente nos prontos-socorros, unidades coronarianas e laboratórios de urgência, ela revolucionou a forma como detectamos infarto agudo do miocárdio (IAM) e outras condições cardíacas.

Se você ainda está aprendendo sobre os marcadores cardíacos tradicionais, também temos um artigo completo sobre CK e CK-MB: o que são, para que servem e como interpretar.

Neste artigo, você vai entender:

  • O que são a troponina I e a troponina T

  • Quais as diferenças entre elas

  • Quando pedir o exame

  • Como interpretar os resultados (inclusive com valores altos que não significam infarto)

  • E por que ela é considerada superior aos marcadores tradicionais como CK-MB

O que é a troponina?

A troponina é um complexo de três proteínas que regulam a contração muscular nos músculos estriados. Está presente tanto no músculo esquelético quanto no músculo cardíaco, mas as isoformas I e T do coração são específicas para o miocárdio.

  • Troponina I (cTnI): inibe a atividade da actina-miosina. É altamente específica para o coração.

  • Troponina T (cTnT): fixa o complexo troponina ao filamento de tropomiosina. Também exclusiva do tecido miocárdico.

Quando ocorre lesão no miocárdio, essas proteínas são liberadas na corrente sanguínea, o que permite sua quantificação por métodos laboratoriais.

Por que a troponina é melhor que CK e CK-MB?

A troponina passou a ser o marcador cardíaco padrão-ouro porque:

  • É muito mais específica: só se encontra no músculo cardíaco, ao contrário da CK-MB, que pode estar presente em pequena quantidade no músculo esquelético.

  • É mais sensível: detecta pequenas lesões que a CK-MB não identificaria.

  • Permite detectar eventos menores e subclínicos.

  • Permanece elevada por mais tempo: ideal para diagnóstico mesmo após várias horas do início dos sintomas.

Essas características foram validadas em diretrizes como a do ESC/ACC (European Society of Cardiology/American College of Cardiology) e Guidelines da AHA, que indicam a troponina como critério essencial para definição de infarto tipo 1.

Diferença entre Troponina I e T

Embora ambas sejam consideradas equivalentes clinicamente para o diagnóstico de infarto, existem diferenças práticas:

  • A troponina I tem maior variação entre os kits laboratoriais (diferentes padrões entre fabricantes).

  • A troponina T possui padronização global (Roche), sendo mais comum em laboratórios com equipamentos automatizados dessa marca.

Na prática, o importante é acompanhar a curva e usar o mesmo tipo na mesma instituição.

Quando solicitar troponina?

  • Dor torácica sugestiva de isquemia

  • Dispneia ou mal-estar em pacientes com risco cardiovascular

  • Pós-procedimentos de revascularização (angioplastia, stent)

  • Suspeita de miocardite ou miocardiopatia tóxica (ex. quimioterapia)

  • Pacientes em UTI com instabilidade hemodinâmica

A coleta deve ser feita logo na chegada (0h) e repetida em 1h ou 3h, dependendo do protocolo da instituição.

Interpretação dos resultados

Cada fabricante define seu limite superior de referência (LSR), geralmente com base em populações saudáveis. O importante é observar:

  • Troponina detectável, mas estável: pode ocorrer em idosos, doentes crônicos ou pacientes com ICC.

  • Troponina em elevação progressiva: forte indício de lesão miocárdica.

  • Troponina com queda subsequente: indica evento agudo com resolução parcial.

O diagnóstico de IAM tipo 1 exige elevação e/ou queda da troponina + sintoma isquêmico ou alteração de ECG/imagem.

Causas de elevação da troponina que não são infarto

  • Insuficiência cardíaca congestiva

  • Embolia pulmonar

  • Miocardite

  • Sepse ou SIRS

  • Taquiarritmias mantidas

  • Insuficiência renal crônica

  • Acidente vascular cerebral

  • Quimioterapia cardiotóxica

Por isso, é fundamental sempre correlacionar com o quadro clínico e exames complementares.

Troponina de alta sensibilidade (hs-cTn)

A versão de alta sensibilidade permite detectar concentrações muito baixas, com maior precocidade. Isso melhorou o atendimento em emergências, permitindo:

  • Exclusão rápida de infarto

  • Diagnóstico precoce de IAM tipo 1 e 2

Por outro lado, aumentou o número de resultados detectáveis em pacientes sem evento isquêmico agudo.

Papel do laboratório clínico

O laboratório deve:

  • Garantir controle de qualidade interno e externo rigoroso

  • Usar método compatível com guias internacionais

  • Evitar erros pré-analíticos (ex. hemólise, coleta errada)

  • Gerar laudos claros e padronizados

Além disso, pode oferecer curvas enzimáticas seriadas, com integração aos dados do ECG e do clínico.

Conclusão

A troponina I e T são biomarcadores valiosos, capazes de guiar decisões críticas em minutos. Sua interpretação exige compreensão do contexto clínico, conhecimento da cinética da enzima e entendimento das limitações laboratoriais.

Elas superam os antigos marcadores como a CK-MB em especificidade, sensibilidade e confiabilidade diagnóstica, tornando-se indispensáveis para qualquer laboratório que atenda emergências cardiológicas.

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📌 Por Ariéu Azevedo Moraes
Biomédico e fundador da Pipeta e Pesquisa
💡 Descomplicando a bioquímica cardíaca com conteúdo de valor para quem vive a rotina laboratorial.

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