CK e CK‑MB: o que são, para que servem e valores de referência explicados

CK e CK-MB: entenda o que são esses marcadores cardíacos, como interpretar em casos de macro-CK, para que servem, quando solicitar.

BIOQUÍMICA

Ariéu Azevedo Moraes

9/12/20255 min ler

Marcadores Cardiacos
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CK e CK-MB: o que são, para que servem e valores de referência explicados

Os marcadores cardíacos são essenciais no diagnóstico de lesões do miocárdio, especialmente no infarto agudo. Dois dos mais conhecidos são a CK (creatina quinase) e sua isoenzima mais específica, a CK-MB. Mas afinal, o que esses exames significam? Quando devem ser solicitados? Quais são os valores normais e o que é a tal da macro-CK? Este artigo traz as respostas de forma clara e aplicável à prática laboratorial.

Mesmo com a consolidação da troponina como principal marcador cardíaco, a CK e a CK-MB ainda são extremamente valiosas, especialmente em contextos específicos como a detecção de reinfarto, monitoramento de dano muscular e avaliação de curva enzimática rápida.

O que é CK e CK-MB

A creatina quinase (CK), também conhecida como CPK, é uma enzima encontrada nos tecidos musculares, como músculos esqueléticos, músculo cardíaco (miocárdio) e cérebro. Ela tem papel essencial na produção de energia celular por meio da transferência de grupos fosfato.

As isoformas da CK são:

  • CK-MM: predominante em músculo esquelético.

  • CK-BB: presente em tecido cerebral e liso.

  • CK-MB: com maior especificidade para músculo cardíaco.

A isoenzima CK-MB é a mais relevante nos casos de suspeita de infarto agudo do miocárdio (IAM), pois se eleva quando há dano ao miocárdio.

CK e CK-MB são marcadores utilizados no diagnóstico de infarto agudo. A CK-MB é mais específica para o miocárdio. Em casos de macro-CK, a proporção CK-MB/CK total pode ajudar na identificação de falsos positivos. Ferramentas como a PipetaCalc auxiliam na interpretação clínica.

Para que serve o exame de CK e CK-MB

Estes exames são solicitados principalmente em casos de:

  • Dor torácica com suspeita de infarto.

  • Monitoramento de reinfarto após intervenção.

  • Avaliação de lesões musculares extensas.

  • Investigação de miopatias ou rabdomiólise.

A CK-MB apresenta uma cinética rápida: sobe em 4 a 6 horas, atinge pico em 18 a 24 horas e retorna ao basal em 2 a 3 dias. Isso a torna ótima para detectar reinfarto ou monitorar a evolução de uma lesão.

Valores esperados e interpretação clínica

A interpretação do exame depende de diversos fatores, como sexo, idade, atividade física recente e método utilizado. De forma geral:

  • A CK total costuma variar entre 30 e 200 U/L em adultos.

  • A CK-MB, em valores absolutos, fica abaixo de 5 ng/mL ou abaixo de 6% em relação ao total da CK.

Se a fração CK-MB representa mais de 6% da CK total, é um indicativo de lesão miocárdica, especialmente se associado a sintomas clínicos e alterações eletrocardiográficas.

Porém, existem exceções importantes.

O que é Macro-CK e como ela interfere?

Macro-CK é uma forma atípica da creatina quinase que circula no sangue ligada a outras moléculas, como imunoglobulinas (macro-CK tipo 1) ou mitocôndrias (macro-CK tipo 2). Essa forma mais pesada da enzima pode resultar em valores persistentemente elevados de CK ou CK-MB, sem que exista dano miocárdico real.

Esse achado pode causar falsos positivos para infarto se não reconhecido adequadamente.

Quando suspeitar de macro-CK:

  • Valores persistentemente elevados de CK-MB sem variação em curva enzimática.

  • Paciente assintomático ou sem alterações no ECG.

  • CK-MB > 20% da CK total com CK total dentro da normalidade.

Como identificar e diferenciar a macro-CK

Não existe um exame específico rotineiro em todos os laboratórios para macro-CK, mas algumas abordagens laboratoriais ajudam:

  • Cinética enzimática estável: macro-CK não segue o padrão de elevação e queda observado no IAM.

  • Termoinstabilidade: a CK-MB verdadeira é sensível ao calor; aquecimentos podem ser feitos para diferenciação.

  • Eletroforese de CK: mostra bandas de macro-CK separadas das isoformas usuais.

  • Dosagens repetidas: mantém-se elevadas por semanas ou meses.

Esses recursos têm limitações, mas ajudam a evitar erros de interpretação clínica.

Existe alguma forma de corrigir o valor da CK-MB em casos de macro-CK?

Não existe um cálculo matemático padronizado para “corrigir” valores em casos de macro-CK. Porém, o uso da proporção CK-MB/CK total e a análise da curva enzimática continuam sendo as ferramentas mais valiosas.

  • Uma relação CK-MB/CK total acima de 20% sem correlação clínica deve acender o alerta.

  • Em caso de dúvida, a solicitação de troponina T ou I é recomendada para confirmar ou descartar lesão miocárdica.

Quando o valor parece desproporcional, você pode usar a ferramenta PipetaCalc para comparar frações e ajudar na interpretação clínica em casos suspeitos.

Acesse agora: pipetacalc.pipetaepesquisa.com.br

Outras causas de elevação de CK e CK-MB que não são infarto

  • Exercícios intensos ou recentes

  • Miopatias hereditárias

  • Hipotireoidismo

  • Trauma muscular

  • Uso de estatinas

  • Convulsões

  • Rabdomiólise

Sempre que houver dúvida diagnóstica, deve-se considerar o quadro clínico como um todo, e não apenas os valores numéricos dos exames laboratoriais.

Interpretação integrada com outros marcadores

A CK-MB é menos específica que a troponina, mas continua sendo valiosa:

  • Troponina é mais sensível e específica, mas persiste elevada por mais tempo.

  • CK-MB é mais útil para monitoramento de reinfarto e em casos em que não há disponibilidade de troponina.

Considerações finais

Entender os marcadores cardíacos é muito mais do que decorar valores de referência. É saber interpretar em contexto, reconhecer interferências laboratoriais, e aplicar esse conhecimento em benefício do paciente.

A macro-CK, embora rara, pode confundir até mesmo os mais experientes. Por isso, é importante:

  • Observar a curva de liberação enzimática

  • Avaliar a proporção CK-MB / CK total

  • Correlacionar com dados clínicos e ECG

  • Lembrar de causas alternativas, como trauma, exercício ou distúrbios metabólicos

  • Utilizar ferramentas como a PipetaCalc para auxiliar no raciocínio clínico

📌 Por Ariéu Azevedo Moraes
Biomédico, educador e fundador da Pipeta e Pesquisa
💡 Aqui, descomplicamos as análises clínicas para você que vive a ciência no dia a dia do laboratório.

Referências

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