Autoanticorpos da Tireoide: Entenda Anti-TPO, Anti-Tg, TRAb e Tireoglobulina nos Exames Laboratoriais

Você fez exames da tireoide e encontrou Anti-TPO, Anti-Tg, TRAb ou Tireoglobulina? Entenda o que significa cada marcador, quando solicitá-los e o que podem revelar sobre sua saúde autoimune.

IMUNOLOGIAHORMÔNIOS E VITAMINAS

Ariéu Azevedo Moraes

9/28/20254 min ler

Autoanticorpos da tireóide
Autoanticorpos da tireóide

Autoanticorpos da Tireoide: Entenda Anti-TPO, Anti-Tg, TRAb e Tireoglobulina nos Exames Laboratoriais

“Doutor, o que significa esse tal de Anti-TPO?”

Essa é uma pergunta comum de pacientes que acabam de retirar os resultados dos seus exames. Muitas vezes, esses nomes complicados assustam, principalmente quando aparecem alterados.

Anti-TPO, Anti-Tg, TRAb, tireoglobulina… parecem palavras de outra língua. Mas, na verdade, são peças fundamentais de um quebra-cabeça que ajuda a entender melhor as doenças autoimunes da tireoide, como Hashimoto e Graves.

Neste artigo, vamos esclarecer o que são esses marcadores, para que servem, quando solicitá-los e como interpretá-los junto ao seu médico. E, se você ainda está com dúvidas sobre T3, T4 e TSH, recomendamos a leitura do nosso outro artigo com explicações completas:

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Autoimunidade e tireoide: o que você precisa saber antes de tudo

A tireoide é uma glândula sensível e inteligente. Responsável por regular o metabolismo, pode se tornar alvo de anticorpos do próprio corpo em doenças autoimunes.

Nessas condições, o sistema imunológico “confunde” a tireoide com um invasor. Como consequência, surgem inflamações, alterações hormonais e sintomas que afetam o corpo todo, como cansaço, ganho de peso, queda de cabelo ou taquicardia.

É aí que os exames de anticorpos e proteínas tireoidianas entram para ajudar a detectar e compreender esse ataque autoimune.

Anti-TPO (Anticorpo Antiperoxidase Tireoideana)

A peroxidase tireoidiana (TPO) é essencial na produção de T3 e T4. Quando o organismo desenvolve anticorpos contra ela, surge a suspeita de tireoidite autoimune.

As condições mais associadas ao Anti-TPO elevado são: tireoidite de Hashimoto e, em menor frequência, a doença de Graves.

  • Valores altos: indicam atividade autoimune.

  • Valores baixos ou ausentes: não excluem doença, mas dificultam o diagnóstico.

Esse exame costuma ser solicitado em casos de suspeita de hipotireoidismo, diagnóstico diferencial de bócio, histórico familiar de tireoidite autoimune e no rastreamento de gestantes.

Anti-Tg (Anticorpo Antitireoglobulina)

A tireoglobulina (Tg) é uma proteína produzida pela tireoide e matéria-prima para os hormônios tireoidianos. Quando surgem anticorpos contra a Tg, geralmente há associação com tireoidite de Hashimoto.

  • Presente em até 70% dos casos de Hashimoto.

  • Menos específico que o Anti-TPO, mas complementar.

  • Pode interferir na dosagem da própria Tg, prejudicando o acompanhamento de câncer de tireoide.

TRAb (Anticorpo Anti-Receptor de TSH)

Entre os autoanticorpos, o TRAb é um dos mais específicos para a doença de Graves, que provoca hipertireoidismo. Ele atua de forma anômala estimulando ou bloqueando o receptor de TSH, causando hiperatividade da glândula mesmo quando o TSH está baixo.

  • Resultado positivo: sugere que o receptor está sendo estimulado de forma incorreta.

  • Resultado negativo: não descarta a doença, devendo ser repetido em casos suspeitos.

É solicitado principalmente para confirmar Graves, avaliar orbitopatia tireoidiana e monitorar pacientes tratados com iodo radioativo ou antitireoidianos.

Tireoglobulina: marcador tumoral e proteína funcional

A dosagem da tireoglobulina isolada é especialmente importante no acompanhamento do câncer diferenciado de tireoide após tireoidectomia. Nessas situações, espera-se que os níveis estejam indetectáveis.

Vale lembrar que a presença de Anti-Tg pode interferir diretamente na leitura da Tg, sendo recomendada a dosagem simultânea dos dois.

Como interpretar na prática?

  • Anti-TPO + Anti-Tg elevados: indicam tireoidite autoimune e risco de evolução para hipotireoidismo.

  • TRAb positivo com TSH baixo e T3/T4 altos: típico da doença de Graves.

  • Tg indetectável + Anti-Tg positivo em paciente pós-cirurgia: pode indicar remissão tumoral, mas com risco de interferência.

  • Exames normais com sintomas clínicos persistentes: justificam investigação hormonal adicional.

Outras situações clínicas

Esses exames também podem ser úteis em contextos como:

  • Pré-concepção e gestação, para prevenir disfunções que afetam o desenvolvimento fetal.

  • Infertilidade sem causa aparente, já que muitas mulheres com autoimunidade tireoidiana têm dificuldade em engravidar.

  • Presença de outras doenças autoimunes, como lúpus, vitiligo ou diabetes tipo 1, que aumentam a probabilidade de alterações tireoidianas.

Curiosidades

O Anti-TPO pode estar presente em até 15% da população saudável, sem que isso represente doença ativa.
O TRAb pode ser medido em três formas (estimulador, bloqueador ou total), mas a maioria dos laboratórios informa apenas o total.
Anticorpos tireoidianos podem diminuir ou desaparecer após tratamento, embora isso não signifique cura definitiva.

Conclusão: interpretar, não apenas dosar

Os anticorpos da tireoide são ferramentas valiosas, mas não devem ser avaliados de forma isolada. Eles funcionam como peças de um quebra-cabeça que precisa ser montado junto ao quadro clínico, outros exames laboratoriais e acompanhamento médico.

Um resultado alterado não significa obrigatoriamente doença ativa. E um exame normal não descarta totalmente a necessidade de acompanhamento.

Por isso, é fundamental que o paciente conte com interpretação profissional — e que os laboratórios ofereçam laudos confiáveis, claros e contextualizados.

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Ariéu Azevedo Moraes
Biomédico – Fundador da Pipeta e Pesquisa
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