Campanha Junho Vermelho, sua importância na conscientização sobre a doação de sangue

Conheça a campanha Junho Vermelho, sua importância na conscientização sobre a doação de sangue, entenda como funciona a tipagem sanguínea e descubra a promissora — e ainda experimental — criação de sangue artificial no Japão.

ATUALIDADESBIOLOGIA MOLECULAR E BIOTECNOLOGIAIMUNOLOGIAHEMATOLOGIACAMPANHA DE CORES

Ariéu Azevedo Moraes

6/9/20255 min ler

a man riding a skateboard down the side of a ramp
a man riding a skateboard down the side of a ramp

🩸 Junho Vermelho: A Importância da Doação de Sangue, a Tipagem Sanguínea e o Futuro com Sangue Artificial

O que é o Junho Vermelho?

Junho é o mês dedicado a um dos gestos mais nobres e silenciosos da área da saúde: a doação de sangue. A campanha Junho Vermelho, criada em 2015 pelo Movimento Eu Dou Sangue, tem como objetivo principal conscientizar a população sobre a importância de manter os estoques de sangue abastecidos — especialmente durante o inverno, período em que as doações costumam cair drasticamente.

A escolha do mês não é aleatória. O dia 14 de junho é celebrado como o Dia Mundial do Doador de Sangue, data instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para homenagear voluntários e reforçar a necessidade global de doações regulares.

Por que a doação de sangue é tão importante?

Um único doador pode salvar até quatro vidas, pois o sangue coletado pode ser separado em diferentes componentes: hemácias, plasma, plaquetas e crioprecipitado. Cada um é destinado a um tipo específico de paciente — de vítimas de acidentes a pacientes com câncer, passando por recém-nascidos e pessoas com doenças crônicas como anemia falciforme e talassemia.

O problema é que o sangue não pode ser fabricado em laboratório em larga escala e tem prazo de validade curto. As hemácias duram até 42 dias, as plaquetas apenas 5. Isso significa que os hemocentros precisam de um fluxo constante de doações.

Infelizmente, apenas uma pequena parcela da população brasileira doa sangue com regularidade. Segundo o Ministério da Saúde, apenas 1,6% da população doa sangue anualmente, número abaixo dos 2% recomendados pela OMS para garantir o abastecimento adequado.

Como é feita a coleta e quem pode doar?

O processo de doação é simples, rápido e seguro. Após um cadastro inicial, o voluntário passa por uma triagem clínica e exame de hemoglobina. Em seguida, a coleta dura cerca de 10 minutos. A quantidade retirada varia entre 400 e 470 ml, dependendo do peso do doador.

Requisitos básicos para doar sangue:

  • Ter entre 16 e 69 anos (menores com autorização e maiores com doações prévias);

  • Pesar no mínimo 50 kg;

  • Estar em boas condições de saúde;

  • Não estar em jejum (mas evitar alimentos gordurosos);

  • Apresentar documento oficial com foto.

Tipagem sanguínea: o que é e como é feita?

Saber o tipo sanguíneo é essencial não apenas para transfusões, mas também para gestantes, cirurgias, transplantes e controle de emergências médicas. O sistema ABO e o fator Rh são os dois principais determinantes da tipagem.

Os tipos sanguíneos são:

  • A+

  • A−

  • B+

  • B−

  • AB+

  • AB−

  • O+

  • O−

O tipo O− é o doador universal de hemácias, enquanto o AB+ é o receptor universal.

Como é feito o exame de tipagem?

O teste mais comum é realizado por meio da reação de aglutinação:

  1. A amostra de sangue do paciente é misturada com reagentes específicos: soro anti-A, anti-B e anti-D (para Rh).

  2. Observa-se a presença ou ausência de aglutinação em cada tubo.

  3. Com base nas reações, define-se o tipo sanguíneo e o fator Rh do indivíduo.

Descubra a nossa inovadora ferramenta educacional, projetada especialmente para profissionais, acadêmicos e professores que desejam aprimorar o conhecimento em tipagem sanguínea!

Com ela, você pode explicar de forma clara e simular os possíveis cruzamentos de resultados de testes laboratoriais. Amplie sua compreensão e otimize o aprendizado dos seus alunos ou colegas, tornando as aulas mais dinâmicas e interativas. Clique aqui e conheça sua mais nova aliada no processo de ensino-aprendizagem.

Em laboratórios e bancos de sangue, também são realizados testes de prova cruzada, pesquisa de anticorpos irregulares e teste de Coombs, que aumentam a segurança transfusional.

A importância da conscientização contínua

A doação de sangue é um ato voluntário, mas depende de campanhas constantes para se manter ativa. Em meses frios ou durante feriados prolongados, os estoques caem perigosamente. É por isso que o Junho Vermelho existe: para lembrar a sociedade de que doar sangue é um compromisso contínuo com a vida do próximo.

Além disso, campanhas como essa ajudam a combater mitos, como:

  • “Doar sangue engorda ou emagrece” – FALSO. O corpo repõe o volume perdido naturalmente.

  • “Pessoas com tatuagem não podem doar” – FALSO. Basta aguardar 6 meses após o procedimento.

  • “Posso ficar fraco depois de doar” – FALSO. A doação não compromete a saúde de quem está em boas condições.

Avanço científico: o sangue artificial japonês

Em 2024, um grupo de pesquisadores japoneses anunciou um feito impressionante: a criação de um tipo de sangue artificial universal, desenvolvido para ser usado em qualquer pessoa, independentemente do tipo sanguíneo.

Como funciona?

Esse sangue sintético é composto por:

  • Hemácias artificiais, capazes de transportar oxigênio;

  • Plaquetas sintéticas, para atuar na coagulação.

A mistura é armazenada em pó e pode ser reconstituída com solução líquida antes da transfusão. O principal diferencial é que ele não depende de compatibilidade ABO ou Rh, podendo ser usado em emergências ou zonas de conflito, onde não há tempo para testes.

Em que estágio está?

Até agora, os testes foram realizados em animais de laboratório e modelos simulados. Os resultados mostraram eficácia na oxigenação e hemostasia, com baixíssima taxa de reações adversas. Mas a segurança em humanos ainda está sendo avaliada.

A expectativa é que, em alguns anos, esse sangue possa ser usado em situações específicas como:

  • Catástrofes naturais;

  • Atendimento em campo de batalha;

  • Regiões remotas sem hemocentros;

  • Pacientes raros com múltiplos anticorpos irregulares.

⚠️ Importante destacar: o sangue artificial ainda está em fase experimental, não substitui a doação voluntária e está longe de suprir a demanda global de hemocomponentes. Por isso, o ato de doar sangue continua sendo essencial.

O papel do laboratório clínico na segurança transfusional

Os laboratórios são peças-chave na cadeia da doação de sangue. Eles realizam desde o exame de tipagem até os testes sorológicos obrigatórios para triagem de doenças transmissíveis.

Entre os exames realizados em cada bolsa coletada, estão:

  • HIV 1 e 2;

  • Hepatites B e C;

  • Sífilis;

  • HTLV I/II;

  • Doença de Chagas;

  • ALT (alanina aminotransferase) como marcador indireto.

A liberação de cada unidade de sangue só ocorre após esses testes, garantindo segurança ao receptor e tranquilidade ao doador.

Conclusão

O Junho Vermelho nos lembra que a doação de sangue é mais do que um ato de solidariedade: é uma ação estratégica para manter o sistema de saúde funcionando, seja em emergências, cirurgias ou tratamentos crônicos.

A biotecnologia caminha para inovações incríveis, como o sangue artificial japonês, mas até que essa realidade chegue de forma segura e acessível, é o doador voluntário que salva vidas todos os dias.

Se você pode doar, doe. Se não pode, incentive. E lembre-se: o sangue que hoje é doado pode ser o mesmo que, um dia, poderá te salvar.

Texto elaborado por Biomédico Ariéu Azevedo Moraes, especialista em Gestão Laboratorial.

Referências

  1. Ministério da Saúde – Doação de sangue

  2. Organização Mundial da Saúde – World Blood Donor Day

  3. Hemocentro de São Paulo – Perguntas frequentes sobre doação

  4. Japan Times – Artificial blood tested on animals

  5. Kumar, A. & Abbas, A. K. (2021). Robbins Patologia Básica. 10ª edição. Elsevier.

  6. Naoum, P. C. (2010). Imuno-hematologia para o banco de sangue. 2ª ed. Sarvier.

Deixe seu comentário