Imunoglobulinas: o que são e o que revelam nos exames de sangue
Entenda o que são as imunoglobulinas, como atuam na defesa do organismo, o que revelam nos exames laboratoriais e qual o papel da IgG e IgM em doenças como a dengue.
BIOLOGIA MOLECULAR E BIOTECNOLOGIAIMUNOLOGIA
Ariéu Azevedo Moraes
6/13/20254 min ler


Imunoglobulinas: o que são e o que revelam nos exames de sangue
O que são imunoglobulinas?
As imunoglobulinas, também conhecidas como anticorpos, são proteínas produzidas pelos linfócitos B em resposta a invasores como vírus, bactérias, fungos e toxinas. São componentes centrais do sistema imunológico e atuam tanto na resposta imediata quanto na memória imunológica.
Essas proteínas circulam na corrente sanguínea e também estão presentes em secreções, mucosas e outros fluidos corporais, com funções que vão desde a neutralização de agentes infecciosos até a ativação de outras células do sistema imune.
Em outras palavras, as imunoglobulinas representam o “arquivo de defesa” do nosso organismo, registrando o que já enfrentamos e como responder novamente se for preciso.
Nos exames laboratoriais, a dosagem dessas imunoglobulinas é uma ferramenta poderosa da imunologia clínica para diagnosticar infecções, imunodeficiências, doenças autoimunes e acompanhar alergias ou certas neoplasias.
Para que servem as imunoglobulinas?
Cada tipo de imunoglobulina tem uma função específica e estratégica no combate a diferentes tipos de agressões ao organismo. Por isso, a interpretação dos seus níveis no sangue permite entender o estágio e a natureza da resposta imune do paciente.
Veja um resumo de suas principais funções:
IgG: confere proteção duradoura após infecções ou vacinas. É a única que atravessa a placenta e protege o recém-nascido.
IgM: é a primeira a aparecer em infecções agudas. Costuma indicar infecção recente.
IgA: protege as mucosas (boca, intestinos, vias respiratórias e genitais).
IgE: atua em reações alérgicas e na defesa contra parasitas.
IgD: sua função ainda é pouco compreendida, mas está envolvida na ativação de linfócitos B.
Cada uma dessas imunoglobulinas tem um papel complementar, e a interpretação isolada de seus níveis pode levar a erros diagnósticos. A análise deve sempre ser feita de forma integrada.
Quando o médico solicita esse exame?
Os exames de imunoglobulinas podem ser solicitados em diversos contextos clínicos, incluindo:
Infecções recorrentes ou persistentes
Investigação de alergias e doenças autoimunes
Avaliação da eficácia vacinal
Monitoramento de imunodeficiências
Detecção de gamopatias monoclonais (como mieloma múltiplo).
O teste geralmente é realizado por nefelometria ou ELISA, utilizando uma amostra de sangue venoso. A coleta é simples, e o jejum raramente é exigido.
Como entender os resultados dos exames?
A interpretação depende do contexto clínico e do tipo de imunoglobulina avaliada. Valores elevados ou reduzidos podem sugerir diferentes condições:
Imunoglobulinas elevadas podem indicar:
Infecções ativas ou crônicas
Doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide
Alergias e asma (principalmente IgE)
Gamopatias (como mieloma múltiplo ou macroglobulinemia)
Imunoglobulinas baixas podem estar associadas a:
Imunodeficiências primárias (congênitas)
Uso de imunossupressores ou quimioterapia
Síndromes de perda proteica, como a nefrótica
HIV ou imunossupressão grave.
Valores isolados devem ser sempre interpretados com cautela. Uma IgM elevada, por exemplo, pode indicar infecção aguda, mas também aparecer em reações autoimunes ou condições inflamatórias.
A relação entre IgG, IgM e infecções como a dengue
Entre todas as imunoglobulinas, IgG e IgM são as mais solicitadas nos laboratórios clínicos por estarem diretamente ligadas ao reconhecimento e à evolução de infecções.
Vamos usar a dengue como exemplo prático.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil já contabiliza mais de 5 milhões de casos prováveis de dengue em 2024 e 2025. Diante desse cenário epidêmico, a sorologia para dengue tem papel fundamental no diagnóstico, especialmente em regiões onde o teste molecular (RT-PCR) não está disponível amplamente.
IgM anti-dengue geralmente aparece a partir do 5º dia de sintomas e indica infecção recente.
IgG anti-dengue começa a se elevar após o 7º dia e permanece por meses ou até anos, sinalizando contato prévio ou imunidade.
Em casos de reinfecção por outro sorotipo do vírus da dengue, a IgG tende a subir rapidamente e de forma mais intensa, podendo ser um indicativo de maior risco de formas graves da doença, como a dengue hemorrágica.
Saber o momento certo de coletar a amostra e interpretar corretamente os níveis de IgG e IgM faz toda a diferença para o diagnóstico e o manejo do paciente.
Exemplo de laudo interpretativo:
IgM: reagente – indica infecção recente ou ativa
IgG: reagente – possível contato anterior com o vírus ou resposta de memória
Interpretação: provável infecção secundária (reinfecção por outro sorotipo).
Esse tipo de organização ajuda o médico assistente a compreender rapidamente a situação clínica, especialmente em emergências ou quando o tempo é crítico.
Qual a importância da imunoglobulina na prática clínica?
O conhecimento sobre imunoglobulinas permite ao profissional da saúde não apenas diagnosticar doenças com maior precisão, mas também antecipar complicações e indicar condutas personalizadas.
Na prática, isso se traduz em:
Identificação precoce de imunodeficiências em crianças e adultos
Confirmação de infecções recentes, mesmo com sintomas atípicos
Avaliação da resposta vacinal em pacientes imunocomprometidos
Investigação de síndromes autoimunes que não se revelam em exames convencionais.
Além disso, as imunoglobulinas são utilizadas terapeuticamente em forma de imunoglobulina intravenosa (IVIG) para tratamento de doenças autoimunes, imunodeficiências primárias e até em protocolos hospitalares de COVID-19 em fases iniciais da pandemia.
Conclusão
As imunoglobulinas são a linguagem secreta do nosso sistema imunológico. Quando decifradas corretamente, ajudam a contar a história do que o organismo enfrentou, do que está enfrentando agora e de como pode se proteger no futuro.
Seja em infecções comuns como a dengue, em doenças autoimunes ou em pacientes imunocomprometidos, a dosagem e interpretação adequada de IgG, IgM, IgA, IgE e IgD se torna uma ferramenta indispensável da biomedicina laboratorial moderna.
Se você trabalha na saúde, aprofunde-se na imunologia diagnóstica e compreenda como as imunoglobulinas revelam pistas invisíveis à clínica. E se você é paciente, saiba que por trás de cada laudo existe ciência, técnica e cuidado para proteger a sua saúde.
Texto elaborado por Biomédico Ariéu Azevedo Moraes, especialista em Gestão Laboratorial.
Referências
Abbas, A. K.; Lichtman, A. H. (2020). Imunologia Básica. 6ª ed. Elsevier.
Roitt, I. M.; Delves, P. J. (2016). Immunology. 13ª ed. Elsevier.
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