CRISPR e o CTX310: A Nova Fronteira da Terapia Gênica Contra Dislipidemias
Entenda como a tecnologia CRISPR e a terapia gênica experimental CTX310 prometem revolucionar o tratamento das dislipidemias graves, atuando diretamente no DNA para reduzir colesterol e risco cardiovascular.
BIOLOGIA MOLECULAR E BIOTECNOLOGIABIOQUÍMICA
Ariéu Azevedo Moraes
6/1/20255 min ler


E se um único tratamento fosse capaz de “editar” o genoma e reduzir o colesterol de forma duradoura, talvez para o resto da vida?
Esse é o horizonte que se desenha com a combinação entre a tecnologia de edição gênica CRISPR e terapias como o CTX310, voltadas para o tratamento de dislipidemias graves.
A edição gênica por CRISPR é considerada uma das maiores revoluções da biotecnologia das últimas décadas. Utilizando uma espécie de “tesoura molecular” — formada pela proteína Cas9 guiada por um RNA específico — é possível modificar o DNA de células vivas com alta precisão, corrigindo mutações, silenciando genes ou ajustando vias metabólicas inteiras.
Dentro desse cenário surge o CTX310, uma terapia gênica experimental desenhada para atuar em pacientes com níveis muito elevados de colesterol LDL ou triglicerídeos, muitas vezes resistentes às abordagens tradicionais, como estatinas, ezetimiba ou inibidores de PCSK9. A proposta é ousada: intervir diretamente na programação genética ligada ao metabolismo lipídico, oferecendo um controle mais duradouro do risco cardiovascular.
Neste artigo, vamos entender:
como funciona a tecnologia CRISPR na prática;
qual é a proposta do CTX310 no contexto das dislipidemias;
quais são os potenciais benefícios e riscos dessa abordagem;
e como tudo isso pode redefinir o futuro da medicina cardiovascular e dos exames laboratoriais voltados ao perfil lipídico.
O que é o CTX310?
Desenvolvido pela CRISPR Therapeutics, o CTX310 é uma terapia de edição genética in vivo, administrada por meio de nanopartículas lipídicas (LNPs), que entregam o sistema CRISPR/Cas9 diretamente ao fígado do paciente. O alvo é o gene ANGPTL3, responsável pela produção da proteína angiopoietina-like 3, envolvida na regulação dos níveis de lipídios no sangue.
Estudos populacionais demonstraram que indivíduos com mutações naturais de perda de função no ANGPTL3 apresentam menores níveis de LDL e triglicerídeos, além de menor risco de doença cardiovascular, sem efeitos colaterais significativos. Isso torna o ANGPTL3 um alvo terapêutico ideal.
Como funciona a edição gênica com o CTX310?
Após a administração intravenosa, as nanopartículas do CTX310 alcançam o fígado, onde liberam o CRISPR/Cas9. Essa enzima, programada para reconhecer o gene ANGPTL3, realiza um corte específico no DNA, provocando a interrupção da produção da proteína.
Esse mecanismo é realizado uma única vez, diferentemente de medicamentos de uso contínuo como estatinas ou fibratos. O resultado esperado é uma redução permanente da atividade do gene, levando a uma queda sustentada dos níveis lipídicos no sangue.
Resultados clínicos preliminares
Em maio de 2025, a CRISPR Therapeutics anunciou dados promissores do estudo clínico de Fase 1, que avaliou a segurança e eficácia do CTX310 em 10 pacientes com diferentes tipos de dislipidemia, incluindo hipercolesterolemia familiar heterozigótica (HeFH), hipertrigliceridemia severa (sHTG) e dislipidemia mista.
Entre os resultados observados:
Redução de até 82% nos triglicerídeos;
Redução de até 81% no colesterol LDL;
Efeitos observados após uma única dose da terapia;
Resultados consistentes em pacientes com perfis lipídicos diferentes.
Esses dados são extremamente animadores, especialmente para pacientes que não respondem bem a terapias convencionais ou que possuem intolerância a medicamentos orais de uso crônico.
📖 Fonte: CRISPR Therapeutics – Relatório clínico CTX310
E quanto à segurança da terapia?
Até o momento, o CTX310 tem se mostrado bem tolerado. Não foram registrados eventos adversos graves atribuídos à terapia. Os parâmetros laboratoriais de função hepática, bilirrubinas e contagem de plaquetas permaneceram estáveis nos pacientes tratados.
No entanto, como se trata de uma intervenção genética permanente, o monitoramento a longo prazo será essencial para avaliar potenciais efeitos colaterais tardios, risco de edições fora do alvo (off-targets) e impacto imunológico.
Por que o CTX310 pode mudar o tratamento das dislipidemias?
As dislipidemias são causas centrais de aterosclerose, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Embora estatinas e outros medicamentos ajudem a controlar o colesterol, muitos pacientes não atingem as metas terapêuticas ou desenvolvem efeitos adversos.
A proposta do CTX310 é oferecer uma solução definitiva e personalizada, especialmente para:
Pacientes com mutações genéticas;
Pessoas com resistência ou intolerância a estatinas;
Indivíduos com risco cardiovascular muito elevado;
Populações com dificuldade de adesão ao tratamento contínuo.
Ao silenciar permanentemente um gene associado à dislipidemia, o CTX310 pode reduzir drasticamente a necessidade de uso contínuo de medicamentos e melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas.
O que diferencia o CTX310 de outras terapias CRISPR?
Ao contrário de outras terapias gênicas que atuam ex vivo (fora do corpo, com reinfusão celular), o CTX310 é administrado in vivo, o que simplifica o processo, reduz custos e amplia o acesso.
Além disso, a tecnologia das nanopartículas lipídicas oferece maior precisão na entrega ao fígado, principal órgão responsável pelo metabolismo dos lipídios.
O CTX310 também se insere em uma nova geração de terapias CRISPR com aplicações sistêmicas, junto com outras terapias em desenvolvimento como o CTX112 (para doenças autoimunes) e CTX211 (para hemofilia).
E os próximos passos?
A CRISPR Therapeutics já planeja a expansão para estudos de Fase 2 e 3 com maior número de pacientes, acompanhamento prolongado e coleta de dados adicionais de eficácia e segurança.
Se os dados continuarem positivos, o CTX310 poderá alcançar o status de terapia aprovada para uso clínico nos próximos anos, tornando-se um marco na medicina cardiovascular e genética.
Então temos que:
O CTX310 é um dos exemplos mais promissores de como a edição gênica CRISPR pode transformar a forma como tratamos doenças complexas, como as dislipidemias hereditárias e resistentes. Ao oferecer uma abordagem precisa, de aplicação única e potencialmente curativa, essa terapia pode mudar o paradigma da medicina cardiovascular nos próximos anos.
Enquanto ainda estamos nos estágios iniciais, os resultados obtidos até agora reforçam que o futuro do tratamento de doenças crônicas pode não estar apenas em medicamentos, mas em reescrever os próprios genes que causam essas condições.
Texto elaborado por Biomédico Ariéu Azevedo Moraes, especialista em Gestão Laboratorial.
Referências
Musunuru, K. et al. (2022). Genetics and Epigenetics of Lipid Disorders. Nature Reviews Cardiology.
Ledford, H. (2023). CRISPR Gene Editing in the Clinic. Nature.
Zain, R. (2024). ANGPTL3 as a Therapeutic Target: Promise and Challenges. Journal of Lipid Research.
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