CRISPR e o CTX310: A Nova Fronteira da Terapia Gênica Contra Dislipidemias
Conheça o CTX310, terapia revolucionária baseada em edição gênica CRISPR, que promete tratar dislipidemias graves ao inativar o gene ANGPTL3. Entenda como funciona e os resultados clínicos iniciais.
ATUALIDADESBIOLOGIA MOLECULAR E BIOTECNOLOGIABIOQUÍMICA
Ariéu Azevedo Moraes
6/1/20254 min ler


CRISPR e o CTX310: A Nova Fronteira da Terapia Gênica Contra Dislipidemias
O que é a terapia gênica CRISPR e por que ela é tão inovadora?
A edição gênica CRISPR representa uma das maiores revoluções da biotecnologia nos últimos 20 anos. Por meio de uma tecnologia de precisão, é possível modificar o DNA de células vivas, corrigindo mutações, silenciando genes ou introduzindo novas sequências. Essa técnica, inspirada no sistema imunológico de bactérias, utiliza a proteína Cas9 guiada por RNA para realizar cortes específicos no genoma.
A partir dessa ferramenta, surge o CTX310, uma terapia gênica experimental que visa tratar dislipidemias graves — condições que envolvem altos níveis de colesterol LDL ou triglicerídeos, frequentemente resistentes aos tratamentos tradicionais.
O que é o CTX310?
Desenvolvido pela CRISPR Therapeutics, o CTX310 é uma terapia de edição genética in vivo, administrada por meio de nanopartículas lipídicas (LNPs), que entregam o sistema CRISPR/Cas9 diretamente ao fígado do paciente. O alvo é o gene ANGPTL3, responsável pela produção da proteína angiopoietina-like 3, envolvida na regulação dos níveis de lipídios no sangue.
Estudos populacionais demonstraram que indivíduos com mutações naturais de perda de função no ANGPTL3 apresentam menores níveis de LDL e triglicerídeos, além de menor risco de doença cardiovascular, sem efeitos colaterais significativos. Isso torna o ANGPTL3 um alvo terapêutico ideal.
Como funciona a edição gênica com o CTX310?
Após a administração intravenosa, as nanopartículas do CTX310 alcançam o fígado, onde liberam o CRISPR/Cas9. Essa enzima, programada para reconhecer o gene ANGPTL3, realiza um corte específico no DNA, provocando a interrupção da produção da proteína.
Esse mecanismo é realizado uma única vez, diferentemente de medicamentos de uso contínuo como estatinas ou fibratos. O resultado esperado é uma redução permanente da atividade do gene, levando a uma queda sustentada dos níveis lipídicos no sangue.
Resultados clínicos preliminares
Em maio de 2025, a CRISPR Therapeutics anunciou dados promissores do estudo clínico de Fase 1, que avaliou a segurança e eficácia do CTX310 em 10 pacientes com diferentes tipos de dislipidemia, incluindo hipercolesterolemia familiar heterozigótica (HeFH), hipertrigliceridemia severa (sHTG) e dislipidemia mista.
Entre os resultados observados:
Redução de até 82% nos triglicerídeos;
Redução de até 81% no colesterol LDL;
Efeitos observados após uma única dose da terapia;
Resultados consistentes em pacientes com perfis lipídicos diferentes.
Esses dados são extremamente animadores, especialmente para pacientes que não respondem bem a terapias convencionais ou que possuem intolerância a medicamentos orais de uso crônico.
📖 Fonte: CRISPR Therapeutics – Relatório clínico CTX310
E quanto à segurança da terapia?
Até o momento, o CTX310 tem se mostrado bem tolerado. Não foram registrados eventos adversos graves atribuídos à terapia. Os parâmetros laboratoriais de função hepática, bilirrubinas e contagem de plaquetas permaneceram estáveis nos pacientes tratados.
No entanto, como se trata de uma intervenção genética permanente, o monitoramento a longo prazo será essencial para avaliar potenciais efeitos colaterais tardios, risco de edições fora do alvo (off-targets) e impacto imunológico.
Por que o CTX310 pode mudar o tratamento das dislipidemias?
As dislipidemias são causas centrais de aterosclerose, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Embora estatinas e outros medicamentos ajudem a controlar o colesterol, muitos pacientes não atingem as metas terapêuticas ou desenvolvem efeitos adversos.
A proposta do CTX310 é oferecer uma solução definitiva e personalizada, especialmente para:
Pacientes com mutações genéticas;
Pessoas com resistência ou intolerância a estatinas;
Indivíduos com risco cardiovascular muito elevado;
Populações com dificuldade de adesão ao tratamento contínuo.
Ao silenciar permanentemente um gene associado à dislipidemia, o CTX310 pode reduzir drasticamente a necessidade de uso contínuo de medicamentos e melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas.
O que diferencia o CTX310 de outras terapias CRISPR?
Ao contrário de outras terapias gênicas que atuam ex vivo (fora do corpo, com reinfusão celular), o CTX310 é administrado in vivo, o que simplifica o processo, reduz custos e amplia o acesso.
Além disso, a tecnologia das nanopartículas lipídicas oferece maior precisão na entrega ao fígado, principal órgão responsável pelo metabolismo dos lipídios.
O CTX310 também se insere em uma nova geração de terapias CRISPR com aplicações sistêmicas, junto com outras terapias em desenvolvimento como o CTX112 (para doenças autoimunes) e CTX211 (para hemofilia).
E os próximos passos?
A CRISPR Therapeutics já planeja a expansão para estudos de Fase 2 e 3 com maior número de pacientes, acompanhamento prolongado e coleta de dados adicionais de eficácia e segurança.
Se os dados continuarem positivos, o CTX310 poderá alcançar o status de terapia aprovada para uso clínico nos próximos anos, tornando-se um marco na medicina cardiovascular e genética.
Conclusão
O CTX310 é um dos exemplos mais promissores de como a edição gênica CRISPR pode transformar a forma como tratamos doenças complexas, como as dislipidemias hereditárias e resistentes. Ao oferecer uma abordagem precisa, de aplicação única e potencialmente curativa, essa terapia pode mudar o paradigma da medicina cardiovascular nos próximos anos.
Enquanto ainda estamos nos estágios iniciais, os resultados obtidos até agora reforçam que o futuro do tratamento de doenças crônicas pode não estar apenas em medicamentos, mas em reescrever os próprios genes que causam essas condições.
Texto elaborado por Biomédico Ariéu Azevedo Moraes, especialista em Gestão Laboratorial.
Referências
Musunuru, K. et al. (2022). Genetics and Epigenetics of Lipid Disorders. Nature Reviews Cardiology.
Ledford, H. (2023). CRISPR Gene Editing in the Clinic. Nature.
Zain, R. (2024). ANGPTL3 as a Therapeutic Target: Promise and Challenges. Journal of Lipid Research.
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