Fator Reumatoide (FR): o que é, para que serve o exame e como interpretar seus resultados
O Fator Reumatoide é um autoanticorpo associado à artrite reumatoide e outras condições inflamatórias. Entenda quando pedir o exame, como interpretar valores elevados e sua relação com PCR, VHS e ASO.
IMUNOLOGIA
Ariéu Azevedo Moraes
11/17/20255 min ler


Fator Reumatoide (FR): o que é, como interpretar e qual seu papel nas doenças autoimunes e inflamatórias
O Fator Reumatoide (FR) é um autoanticorpo detectado no sangue, associado principalmente à artrite reumatoide, embora também apareça em outras doenças autoimunes e inflamatórias. Seu exame auxilia no diagnóstico, no raciocínio clínico e na avaliação do quadro reumatológico, especialmente quando interpretado junto com PCR, VHS e anticorpos anti-CCP.
O FR como peça central do quebra-cabeça reumatológico
Quando falamos de marcadores imunológicos, o Fator Reumatoide ocupa posição histórica e estratégica. Ele foi um dos primeiros autoanticorpos descritos e, até hoje, integra a tríade laboratorial que desperta atenção imediata em quadros articulares:
VHS (processo inflamatório)
PCR (inflamação ativa e rápida)
Fator Reumatoide (componente autoimune)
Juntos, eles constroem um panorama inicial robusto para investigar doenças autoimunes, inflamatórias e infecciosas que se manifestam com dor articular, edema, rigidez matinal e alterações sistêmicas.
Mas o FR não é um exame específico. Ele precisa ser entendido dentro do contexto clínico, dos anticorpos complementares e da fisiopatologia imunológica.
Neste artigo, vamos explorar:
o que é o FR
por que ele é pedido
como é produzido
como interpretar seus valores
quando ele é positivo sem doença
como ele se relaciona com PCR, VHS e ASO
erros comuns de interpretação
um caso clínico explicativo
O que é o Fator Reumatoide?
O Fator Reumatoide (FR) é um autoanticorpo, ou seja, um anticorpo produzido pelo próprio sistema imunológico que reage contra estruturas do próprio organismo.
Especificamente, o FR reage contra a porção Fc da imunoglobulina IgG.
Ou seja: o corpo cria anticorpos contra outros anticorpos.
Isso revela um comportamento imunológico disfuncional, característico de doenças autoimunes — mas não exclusivo delas.
Como o FR é produzido? Fisiopatologia resumida
O Fator Reumatoide é, na maioria das vezes, um anticorpo da classe IgM direcionado contra a porção Fc da IgG, embora variantes em IgA, IgG e até IgE também possam ser encontradas em determinados contextos clínicos. Esse autoanticorpo surge quando o sistema imunológico passa por um estado de ativação prolongada, geralmente associado a inflamação crônica, estímulo antigênico persistente ou alterações estruturais das próprias imunoglobulinas, situações que favorecem a formação de imunocomplexos circulantes.
Não por acaso, condições marcadas por autoimunidade reumatológica ou por estímulos inflamatórios contínuos tendem a apresentar aumento do FR, refletindo não apenas a presença do autoanticorpo, mas a intensidade e a duração da resposta imune envolvida.
Para que serve o exame de Fator Reumatoide?
O FR é muito utilizado na avaliação:
de artrite reumatoide (AR)
de outras doenças autoimunes
de inflamações crônicas
de quadros articulares persistentes
Ele não fecha diagnóstico sozinho, mas aumenta muito a suspeita clínica quando combinado com sintomas e exames adicionais.
Interpretação do Fator Reumatoide — não é tão simples quanto “positivo ou negativo”
A interpretação deve considerar:
o valor do FR
o tipo do anticorpo (IgM é o mais comum)
os sintomas do paciente
a presença de anticorpos anti-CCP
valores de PCR e VHS
quadro clínico e imagem
Valores mais comuns:
FR < 20 UI/mL → considerado negativo
20–60 UI/mL → positivo baixo
acima de 60–100 UI/mL → fortemente positivo
Mas isso varia conforme o laboratório e o método.
Quando o Fator Reumatoide está aumentado?
1) Artrite Reumatoide (AR)
A associação mais clássica.
Cerca de:
70% dos pacientes com AR apresentam FR elevado
valores altos sugerem maior atividade e prognóstico mais agressivo
FR + anti-CCP → aumenta a especificidade, chegando a ~95%
O FR sugere inflamação crônica sustentada com formação de imunocomplexos.
2) Outras doenças autoimunes
O FR também pode aparecer em:
Síndrome de Sjögren
Lúpus eritematoso sistêmico
Vasculites
Doença mista do tecido conjuntivo
Hepatite autoimune
Nestes casos, o FR é um marcador da ativação policlonal do sistema imune.
3) Infecções crônicas
Inflamações persistentes estimulam produção de FR, por exemplo:
Hepatite C
Tuberculose
Endocardite bacteriana
Hanseníase
Infecções virais prolongadas
Aqui, o FR não indica AR, mas sim a intensidade da resposta imunológica.
4) Idosos saudáveis
Até 10% dos idosos podem ter FR levemente positivo sem nenhuma doença.
Por isso, FR isolado nunca deve ser interpretado sem contexto.
Relação do Fator Reumatoide com outros marcadores
A interpretação do Fator Reumatoide ganha profundidade quando analisada em conjunto com outros marcadores imunológicos e inflamatórios. O VHS, por exemplo, costuma se elevar em processos inflamatórios mais duradouros e de evolução lenta; quando aparece aumentado ao lado de um FR positivo, reforça a suspeita de um processo sistêmico ativo e persistente. Já a PCR oferece uma leitura mais imediata da inflamação, respondendo rapidamente às variações da atividade imune. Assim, a associação entre PCR elevada e FR positivo geralmente indica que, além da autoimunidade, há um componente inflamatório agudo em curso.
Outro marcador importante é o ASO, frequentemente utilizado na investigação de infecções estreptocócicas e suas complicações, como artrites pós-estreptocócicas e febre reumática. Ele ajuda a diferenciar quadros inflamatórios de origem infecciosa daqueles de origem autoimune, algo essencial quando o FR aparece elevado em pacientes com dor articular.
Por fim, o anti-CCP desempenha um papel crucial na reumatologia moderna. Trata-se de um autoanticorpo muito mais específico para artrite reumatoide, e sua positividade, quando combinada ao FR, praticamente consolida o diagnóstico. Essa complementaridade torna a dupla FR + anti-CCP uma das mais poderosas ferramentas laboratoriais para identificar precocemente a doença e prever seu comportamento clínico.
Caso clínico — o quebra-cabeça de Dona Teresa
Teresa, 51 anos, relata dor nas mãos, rigidez matinal e edema articular há três meses.
Os exames mostram:
FR: 132 UI/mL
anti-CCP: positivo
PCR: 23 mg/L
VHS: 52 mm
hemograma: anemia discreta
A combinação dos achados mostra atividade inflamatória significativa e forte evidência de artrite reumatoide — reforçada pelo FR fortemente positivo e pelo anti-CCP, marcando o diagnóstico quase com assinatura.
Erros comuns de interpretação
Achar que FR positivo = artrite reumatoide
⟶ Não existe FR patognomônico.Ignorar FR negativo
⟶ 30% dos pacientes com AR têm FR negativo.Não associar FR com anti-CCP
⟶ Anti-CCP dá o refinamento diagnóstico.Interpretar FR sem PCR ou VHS
⟶ Perde-se a noção de atividade inflamatória.Considerar FR isolado em idosos
⟶ Pode ser apenas um achado inespecífico.
Temos então: o FR como marcador que exige contexto
O Fator Reumatoide é uma peça, não o quebra-cabeça inteiro.
Ele ganha valor quando interpretado ao lado de PCR, VHS, anti-CCP e sintomas clínicos.
Sua função é apontar o caminho, não finalizar o diagnóstico — e, dentro sistema imunológico, sendo um pilar essencial.
Escrito por Ariéu Azevedo Moraes
Biomédico, consultor em análises clínicas e fundador da Pipeta e Pesquisa
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Referências
Tiwari V., et al. Rheumatoid Factor – StatPearls. NCBI Bookshelf, 2023.
Devkota B.P. et al. Rheumatoid Factor. Medscape, outubro de 2025.
de Brito Rocha S., Baldo D.C., Andrade L.E.C. Clinical and pathophysiologic relevance of autoantibodies in rheumatoid arthritis. Advances in Rheumatology, 2019.
Togashi T., Ishihara R., Watanabe R., Shiomi M., Yano Y., Fujisawa Y., Katsushima M., Fukumoto K., Yamada S., Hashimoto M. Rheumatoid Factor: Diagnostic and Prognostic Performance and Therapeutic Implications in Rheumatoid Arthritis. J. Clin. Med., 2025;14(5):1529.
Mayo Clinic Staff. Rheumatoid factor test. Mayo Clinic, 26 de agosto de 2023.
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