Proteinúria e Função Renal: O que a urina revela

Explore o que a presença de proteínas na urina pode indicar sobre a saúde dos rins. Conheça os tipos de proteinúria, exames laboratoriais envolvidos e como essa alteração pode sinalizar doenças renais.

URINÁLISEBIOQUÍMICA

Ariéu Azevedo Moraes

4/25/20255 min ler

termômetro, densímetro e coletor de urina
termômetro, densímetro e coletor de urina

O que a urina revela sobre a saúde dos rins

A urina é, talvez, a amostra biológica mais subestimada dentro das análises clínicas. Mas, quando bem interpretada, ela revela sinais que antecedem diagnósticos importantes — especialmente aqueles relacionados à função renal. Entre todos os achados urinários, poucos possuem tanto valor clínico quanto a proteinúria, a presença anormal de proteínas na urina.

A proteinúria pode surgir de forma silenciosa, sem dor ou sintomas, mas ela anuncia mudanças profundas no funcionamento dos rins. Em muitos casos, é o primeiro sinal laboratorial de doenças como diabetes, hipertensão, glomerulopatias, inflamações ou danos crônicos nos néfrons.

E, quando integrada a outros exames fundamentais — como creatinina, clearance de creatinina, urina 24h, PCR urinária e albuminúria — ela cria um panorama completo da saúde renal. É exatamente isso que compõe o silo renal da Pipeta e Pesquisa:

Para interpretar adequadamente uma proteinúria, precisamos entender o papel do rim, sua barreira de filtração, e como os exames laboratoriais traduzem o que está acontecendo dentro dos glomérulos.

Como sempre digo:

"A urina não mente. Quando bem interpretada, ela conta a história silenciosa dos rins."
— Ariéu Azevedo Moraes, biomédico.

O que é proteinúria e por que acontece?

Em condições normais, os glomérulos funcionam como filtros seletivos: deixam passar água e pequenas moléculas, mas impedem a passagem de proteínas plasmáticas, especialmente as maiores, como a albumina.

Quando essa barreira perde eficiência — seja por dano inflamatório, hipóxia, pressão elevada ou toxicidade medicamentosa — proteínas começam a atravessar o filtro renal e aparecem na urina. Esse processo não deveria acontecer, por isso é sempre digno de investigação.

A proteinúria pode indicar:

  • lesão glomerular

  • sobrecarga renal

  • doença renal crônica (DRC) inicial ou avançada

  • nefropatias secundárias (como diabetes e hipertensão)

  • lesões agudas por medicamentos ou infecções

É um marcador precoce. Muitas vezes, mais precoce que a creatinina sérica — que só se altera quando há perda significativa da função renal.

Tipos de proteinúria: o que cada uma significa

1) Proteinúria transitória

Ocorre em situações de estresse físico ou fisiológico:

  • febre

  • exercício intenso

  • desidratação

  • estresse emocional

Costuma desaparecer rapidamente e não indica doença renal persistente.

2) Proteinúria ortostática

Atinge principalmente adolescentes e adultos jovens.
Quando o paciente está em pé, há passagem de proteínas; quando está deitado, não.

É benigna, mas precisa ser diferenciada de causas patológicas.

3) Proteinúria persistente

A mais importante do ponto de vista clínico.

Indica alteração renal contínua e pode estar associada a:

  • glomerulonefrites

  • nefropatia diabética

  • nefroesclerose hipertensiva

  • lúpus

  • doenças crônicas dos néfrons

Aqui, o rastreio precoce faz diferença no prognóstico.

4) Albuminúria

A albumina é a principal proteína do plasma.
Quando aparece na urina, indica lesão glomerular precoce.

  • Microalbuminúria: estágio inicial, principalmente em diabéticos

  • Macroalbuminúria: dano significantemente maior

Esse é o marcador mais sensível para nefropatia diabética — antes mesmo da creatinina começar a subir.

Exames laboratoriais fundamentais no estudo da proteinúria

1) EAS (Urina tipo I)

Simples, acessível e rápido.
A fita detecta a presença de proteína de maneira semi-quantitativa, especialmente albumina.

É o primeiro alerta.

2) Proteinúria de 24 horas

Mede com precisão a quantidade total de proteína excretada em um dia.

É muito útil quando o EAS dá positivo, mas queremos saber a gravidade da perda.

Valores acima de 150 mg/24h já são considerados anormais.

Para aprofundar esse tema, veja:
🔗 Urina 24h: como é feita, para que serve e principais erros
https://www.pipetaepesquisa.com.br/blog-post-urina-24h-como-e-feita-para-que-serve-e-principais-erros

3) Relação Proteína/Creatinina (PCR)

Feita em amostra isolada de urina.
Corrige a proteína urinária pela creatinina, evitando interferência da concentração urinária.

Perfeita para acompanhamento de longo prazo.

4) Albuminúria (micro e macro)

Exame essencial para:

  • diabéticos

  • hipertensos

  • pacientes com suspeita de DRC inicial

É o marcador mais precoce de dano glomerular.

5) Clearance de Creatinina e TFG

Não avaliam a proteinúria diretamente, mas definem a funcionalidade dos rins.

E aqui entra o silo:

Para entender como os rins filtram, é essencial conhecer:

🔗 O exame de creatinina:
https://www.pipetaepesquisa.com.br/blog-post-o-exame-de-creatinina-para-a-saude-dos-rins-prevenindo-doencas-renais

🔗 Clearance de creatinina (PipetaCalc):
https://pipetacalc.pipetaepesquisa.com.br/calculator/clearance-creatinina

Um clearance reduzido indica perda de filtragem; quando associado à proteinúria, isso forma a combinação clássica para diagnóstico de DRC.

TFG abaixo de 60 mL/min/1,73m² por mais de 3 meses confirma doença renal crônica.

Causas clínicas mais comuns de proteinúria

Doenças renais primárias

  • glomerulonefrite

  • nefropatia membranosa

  • doença de mínimas alterações

Doenças sistêmicas

  • diabetes mellitus

  • hipertensão arterial

  • lúpus eritematoso sistêmico

  • amiloidose

Outras causas importantes

  • anti-inflamatórios e imunossupressores nefrotóxicos

  • infecções urinárias

  • mieloma múltiplo (proteinúria de Bence-Jones)

Cada uma dessas causas se manifesta de modo diferente na urina e no laboratório. E é a integração dos exames que revela o diagnóstico.

A história por trás da urina — um caso real

Maria Aparecida, 57 anos, hipertensa de longa data, realizou um EAS de rotina. O exame mostrou proteína (++). Por isso, foi solicitado o exame de proteinúria de 24h, que revelou 780 mg/24h — um valor considerado elevado.

Com investigação nefrológica, Maria foi diagnosticada com nefropatia hipertensiva inicial. O diagnóstico precoce permitiu intervenção imediata, modificando o curso da doença.

Casos como esse mostram como a proteinúria pode ser o “sussurro inicial” dos rins antes que a função renal comece a cair.

A urina avisa antes da creatinina.

Como integrar proteinúria aos demais exames?

Para interpretar adequadamente a saúde dos rins, você precisa olhar para quatro pilares:

1) Creatinina sérica

Mostra a quantidade do marcador no sangue, mas pode estar normal mesmo com dano renal.

2) Urina 24h

Revela a quantidade real de proteína e creatinina eliminada.

3) Clearance de creatinina

Mostra o quanto o rim realmente filtra por minuto.

💡 Use a ferramenta exclusiva da Pipeta e Pesquisa:
👉 https://pipetacalc.pipetaepesquisa.com.br/calculator/clearance-creatinina

4) Proteinúria / Albuminúria

Mostra se o glomérulo está “vazando”.

Quando unimos esses exames, obtemos:

Dano estrutural (proteinúria) + Perda funcional (clearance/TFG)
Essa combinação é o alicerce da nefrologia moderna.

Concluímos então:

A proteinúria é muito mais que um achado de laboratório: é um marcador de risco, um alerta e, muitas vezes, o primeiro sinal de que o rim está sofrendo em silêncio.

Ela precisa ser interpretada no contexto:

  • do EAS

  • da urina 24h

  • da creatinina sérica

  • do clearance

  • da albuminúria

  • e das condições clínicas associadas

Integrar essas informações é o papel da biomedicina moderna, que traduz números em fisiologia, exames em diagnóstico e prevenção em qualidade de vida.

Escrito por Ariéu Azevedo Moraes
Biomédico, consultor em análises clínicas e fundador da Pipeta e Pesquisa
Missão: descomplicar as análises clínicas e transformar informação científica em ferramentas práticas para profissionais da saúde.

Referências

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