Terapia CAR-T: avanços, desafios e o futuro da imunoterapia celular

Descubra o que é a terapia CAR‑T, como funciona, suas principais conquistas em neoplasias hematológicas, as barreiras históricas nos tumores sólidos, e por que ela representa o futuro da oncoterapia personalizada.

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Ariéu Azevedo Moraes

8/15/20253 min ler

Estudo de terapia Car-T
Estudo de terapia Car-T

Terapia CAR-T: avanços, desafios e o futuro da imunoterapia celular

O que é a terapia CAR-T?
A terapia CAR‑T usa células T do próprio paciente, modificadas geneticamente para expressar receptores quiméricos reconhecendo antígenos tumorais específicos; ao serem reinfundidas, essas células ativam potente resposta antitumoral e podem induzir remissão em certos cânceres sanguíneos.

Introdução

A terapia CAR‑T (Chimeric Antigen Receptor T-cell) representa um divisor de águas na oncologia. Ela envolve coletar células T do paciente, reprogramá-las para reconhecer tumores e reinseri-las no organismo, desencadeando uma resposta imune direcionada e eficaz. Embora o foco inicial tenha sido em cânceres hematológicos, o campo caminha para superar os desafios dos tumores sólidos e democratizar essa terapia revolucionária.

O que é a terapia CAR-T e como funciona?

As células CAR‑T são T‑linfócitos de pacientes geneticamente modificados para expressar um receptor quimérico (CAR) que reconhece antígenos tumorais sem depender do MHC, o que aumenta sua precisão e potência. Um CAR típico inclui:

  • domínio extracelular (scFv) que se liga ao antígeno tumoral;

  • hastes e domínio transmembranar, que permitem flexibilidade e ancoragem;

  • domínio endodérmico, com sinalização de ativação (CD3ζ) e co-estimuladores como CD28 ou 4‑1BB.

As gerações de CAR‑T evoluíram significativamente:

  • 1ª geração: somente CD3ζ

  • 2ª geração: adiciona co-estimuladores (CD28 ou 4‑1BB), presentes nos produtos aprovados atualmente.

  • Gerações avançadas: incorporam citocinas, mecanismos de segurança, edição genética para maior persistência e eficácia.

Conquistas em cânceres hematológicos

A terapia CAR‑T transformou o tratamento de leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. Ao todo, seis produtos CAR‑T estão aprovados para uso clínico:

  • Anti-CD19: Kymriah®, Yescarta®, Tecartus®, Breyanzi®

  • Anti‑BCMA: Abecma® (ide-cel) e Carvykti® (bcMA direto)

Esses tratamentos alcançaram respostas completas duradouras em pacientes refratários, oferecendo opções terapêuticas onde antes não existiam alternativas.

O impasse dos tumores sólidos

Apesar do sucesso em cânceres sanguíneos, os tumores sólidos têm resistido à eficácia da terapia CAR‑T por causa de fatores como:

  • Heterogeneidade do antígeno tumoral

  • Microambiente tumoral (TME) altamente imunossupressor, hipóxico e fibroso

  • Infiltração limitada e baixa persistência das células CAR‑T

Cerca de 200 ensaios clínicos ativos estão testando CAR‑T contra tumores sólidos.

Estratégias e inovações para vencer esse desafio

Pesquisas recentes apresentam soluções promissoras:

  • CAR‑T multi-alvo (TanCAR) e armados (“armored CAR‑T”) para evitar escape tumoral

  • Modificações estruturais e genéticas (CRISPR) para maior resistência ao TME e persistência

  • Novos alvos promissores: GD2 (gliomas, neuroblastoma), Claudin18.2 (câncer gastrointestinal)

  • Métodos emergentes de entrega localizada, como filmes de nitinol ou microagulhas para infiltração direta.

Resultados dos congressos (ex: ASCO 2025) mostram avanços que indicam sobrevida 40 % maior em tumores gástricos/GEP tratados com CAR‑T, e redução tumoral em 62 % nos glioblastomas recorrentes.

Segurança e efeitos adversos

Os principais desafios clínicos incluem:

  • Síndrome de liberação de citocinas (CRS): febre, falência orgânica; gerenciável com tocilizumabe

  • Neurotoxicidade (ICANS)

  • Toxicidades tardias: infecções graves, malignidades secundárias

A segurança é tão importante quanto a eficácia na adoção clínica.

Caminhos para o futuro

Geração de CARs universais, off-the-shelf, visando reduzir custos e acelerar produção
Expansão para doenças autoimunes e desordens neurológicas
Acesso global mais justo, com produção automatizada (robótica), democratizando a terapia.

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Conclusão

A terapia CAR‑T é um avanço real e inspirador na oncologia moderna, com resultados transformadores em cânceres do sangue e iniciativas ousadas para tumores sólidos. O futuro da imunoterapia celular promete ser ainda mais eficiente, acessível e personalizado.

O laboratório clínico e o biomédico têm, hoje, um papel central — desde o diagnóstico e triagem até o manejo de eventos adversos e a integração com novas indicações.

Estamos diante de uma revolução silenciosa: células que curam com precisão cirúrgica.

Texto elaborado por Biomédico Ariéu Azevedo Moraes, especialista em Gestão Laboratorial

Referências

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