Vitamina D, PTH e FGF-23: a tríade que conecta rins, ossos e laboratório
Compreenda como os hormônios PTH e FGF-23 influenciam a ativação da vitamina D e o equilíbrio mineral. Um olhar laboratorial sobre a saúde óssea e a função renal, especialmente na Doença Renal Crônica.
HORMÔNIOS E VITAMINASBIOQUÍMICA
Ariéu Azevedo Moraes
6/18/20253 min ler


Vitamina D, PTH e FGF-23: a tríade que conecta rins, ossos e laboratório
Introdução
Quando pensamos nos rins, a primeira função que vem à mente costuma ser a filtração e excreção de substâncias. Mas seu papel vai muito além disso. Os rins também participam ativamente do equilíbrio de minerais e da produção de hormônios fundamentais para a saúde óssea, como o calcitriol (forma ativa da vitamina D). Esse equilíbrio envolve a interação entre PTH (paratormônio), FGF-23 (fator de crescimento de fibroblastos 23) e vitamina D.
Neste artigo, vamos explorar como essas substâncias se relacionam, como os exames laboratoriais avaliam esse eixo e por que seu desequilíbrio é tão relevante, especialmente em pacientes com doença renal crônica (DRC).
O papel dos rins na ativação da vitamina D
A vitamina D proveniente da alimentação ou da síntese cutânea (25(OH)D) é biologicamente inativa. Sua ativação depende de uma etapa renal, onde ocorre a conversão para 1,25(OH)₂D (calcitriol), mediada pela enzima 1-α-hidroxilase, expressa nos túbulos proximais.
O calcitriol desempenha diversas funções:
Estimula a absorção intestinal de cálcio e fósforo;
Atua na mineralização óssea;
Regula negativamente a síntese de PTH e FGF-23.
Na doença renal crônica, essa conversão é prejudicada, levando à deficiência funcional de vitamina D ativa, o que contribui para:
Hipocalcemia;
Hiperparatireoidismo secundário;
Demineralização óssea.
O papel do PTH na regulação óssea e renal
O PTH é secretado pelas glândulas paratireoides em resposta à queda do cálcio sérico. Seus efeitos principais incluem:
Aumento da reabsorção renal de cálcio;
Estímulo da 1-α-hidroxilase, aumentando a produção de calcitriol;
Estímulo da reabsorção óssea, liberando cálcio para o sangue.
Na DRC, a deficiência de calcitriol e a retenção de fósforo levam à elevação do PTH, caracterizando o hiperparatireoidismo secundário. Com o tempo, essa condição afeta negativamente a remodelação óssea, levando a:
Fragilidade do esqueleto (fibrose óssea);
Calcificações ectópicas;
Risco de fraturas e lesões cardiovasculares.
O FGF-23: um regulador menos conhecido, mas essencial
O FGF-23 é um hormônio produzido principalmente pelos osteócitos em resposta ao aumento do fósforo sérico. Sua principal função é promover a fosfatúria (excreção de fósforo pelos rins) e reduzir a ativação da vitamina D.
Ele atua diretamente nos receptores dos túbulos proximais renais, inibindo a enzima 1-α-hidroxilase e reduzindo os níveis de calcitriol.
Na DRC:
A produção de FGF-23 é aumentada para compensar a retenção de fósforo;
Isso piora a deficiência de vitamina D ativa;
Contribui para o hiperparatireoidismo e alterações esqueléticas.
Interação entre PTH, FGF-23 e vitamina D: um equilíbrio delicado
Podemos resumir essa interação da seguinte forma:
↑ PTH → ativa a 1-α-hidroxilase → ↑ 1,25(OH)₂D → ↑ absorção intestinal de cálcio → feedback negativo sobre o próprio PTH;
↑ FGF-23 → inibe a 1-α-hidroxilase → ↓ 1,25(OH)₂D → ↓ absorção de fósforo → ↑ excreção renal de fósforo;
O calcitriol exerce retroalimentação negativa tanto sobre o PTH quanto sobre o FGF-23.
Esse eixo hormonal busca manter o equilíbrio entre cálcio, fósforo e vitamina D. Porém, em pacientes com DRC, esse sistema se torna disfuncional, agravando o quadro de doença mineral e óssea associada à DRC (DMO-DRC).
A visão laboratorial: exames fundamentais
Para o diagnóstico e monitoramento desse eixo, os seguintes exames são essenciais:
Cálcio total e iônico: avaliam a disponibilidade de cálcio livre e biologicamente ativo;
Fósforo sérico: indicador da retenção fosfática;
25(OH)D (vitamina D total): mede o estoque corporal de vitamina D;
1,25(OH)₂D (calcitriol): indica a forma ativa e funcional;
PTH intacto (iPTH): marcador da atividade das paratireoides;
FGF-23: disponível em centros de referência ou pesquisa;
Creatinina e taxa de filtração glomerular (TFG): avaliadores da função renal.
A interpretação conjunta desses exames orienta o tratamento com:
Suplementação de vitamina D;
Análogos de calcitriol;
Quelantes de fósforo;
Moduladores do receptor de cálcio.
Considerações finais
A regulação do metabolismo mineral é um processo dinâmico e integrado. PTH, FGF-23 e vitamina D atuam como protagonistas nesse cenário, sendo modulados diretamente pelos rins e influenciando a saúde óssea e cardiovascular.
Com a progressão da doença renal crônica, esse equilíbrio se rompe, exigindo intervenções clínicas guiadas por exames laboratoriais precisos. O papel do biomédico e das análises clínicas é fundamental para rastrear, acompanhar e orientar condutas baseadas em evidência.
Como destaca Ariéu Azevedo Moraes, biomédico especialista em gestão laboratorial, “compreender o eixo PTH-FGF23-vitamina D é essencial para enxergar além dos laudos e interpretar os sinais de um organismo em desequilíbrio”.
Referências
Manual MSD - Vitamin D and Phosphate Homeostasis
PubMed - PTH and FGF-23 regulation in chronic kidney disease
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